Tuesday, March 23, 2010

A vida lida na palma da mão

O garoto estendeu a mão direita, com um certo receio e uma expressão de desconfiança no olhar. Já tinha conversado com alguns amigos à respeito, e eles, por sua vez, comentaram que dava certo e que tudo o que eles haviam ouvido da mulher fazia todo o sentido. Então, ele achou melhor arriscar, afinal, não tinha nada a perder. A mulher segurou, com força, a mão do rapaz. Virou-a com a palma para cima, na direção na luz, e aproximou o olhar. Aproximou também o seu dedo indicador, que percorreu suavemente as linhas, pouco marcadas, na palma da mão do rapaz.

Ficou alguns segundos em silêncio. Tudo no mais absoluto silêncio. Um sentimento de arrependimento foi surgindo no garoto. E se ela lê-se, ali, alguma coisa ruim? E se ela descobrisse que ele estava à beira da morte? E se ele fosse perder o emprego? E se? E se? Uma tempestade de pensamentos negativos tomou conta do rapaz, que teve vontade de puxar sua mão de volta para si, rápido e forte. Mas não fez isso. A mulher continuou olhando fixamente para a palma da mão clara e jovem dele, até que as palavras foram espirrando de sua boca, como água da torneira.

"Você se deixa levar muito pela emoção", analisou a mulher, que continuou. "Sempre toma qualquer atitude levando em consideração o que o seu coração diz... Mesmo assim, o seu ponto positivo é a razão... Um garoto muito racional e inteligente". Cada palavra dita pela mulher fazia com que o jovem ficasse ainda mais desconfiado. Poderia confiar nessas coisas? Nunca foi de acreditar nesse tipo de "previsão", seja ela feita nas mãos, nas cartas ou até mesmo nas mensagens do zodíaco que lia no jornal. Na verdade, só as lia por diversão. Algumas vezes as mensagens batiam, outras não. Coincidência. Simples assim.

Mas, agora, podia ele confiar no que aquela mulher lhe dizia? Não sabia. "Uma mulher vai lhe marcar para o resto da vida", prosseguiu ela, ainda com os olhos fixos na palma da mão do rapaz. "E você terá um filho", finalizou. Ergueu os olhos e encarou o garoto, esperando alguma pergunta. Nenhuma surgiu. Na verdade, apenas brotou-lhe da boca um agradecimento, e saiu da sala onde estava com a mulher. Como ela havia "visto" essas coisas, perguntava-se, olhando ele próprio para sua mão.

Resolveu não pensar mais no que havia ouvido. Caminhando, decidiu que iria esperar. Esperar e ver, por si próprio, se ela havia visto a coisa certa, afinal, qual é a graça de se viver já sabendo o que vai acontecer em seguida?

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