Monday, April 26, 2010

O (mal) exemplo da mídia

Como futuro jornalista, algumas coisas já não passam mais despercebidas por mim quanto antes. Mas, esses exemplos que citarei aqui, tenho certeza, não foram apenas percebidos por mim, aluno de jornalismo, como também por cada membro da sociedade brasileira. Antes de entrar no assunto, porém, vou explicar a obrigação básica de qualquer jornalista: ouvir, sempre, os vários lados do fato. Sim, ouvimos isso, muitas vezes, milhares de vezes durante o curso. Um fato nunca tem dois lados. Ele tem mais. Mas esses lados, muitas vezes, sequer são procurados.

Foi o que aconteceu na matéria que o jornal carioca "O Globo" publicou sobre o "Dia D", quando milhares de evangélicos se reuniram no Rio de Janeiro. O jornal tratou o assunto como "um dia de caos universal" e comparou o evento religioso ao desastre causado pelas chuvas, que mataram centenas de pessoas no estado. Os organizadores do evento, claro, nem foram procurados pela redação para comentar. Longe de mim querer defender uma ou outra segmentação religiosa, mas o que o jornal "O Globo" fez foi inadmissível. Claro, os jornalistas seguiram a linha editorial do veículo das corporações "Globo".

Não é de hoje que sabemos que a Globo tem se sentindo ameaçada pelo crescimento da Record e tem tentado, à todo custo, "quebrar as pernas" da emissora paulista. Esta, por sua vez, sempre revida, à altura. E foi o que aconteceu nesse domingo, no programa "Domingo Espetacular", que veiculou uma matéria apontando, justamente, essa "birra" da Globo contra os evangélicos. Quem sai perdendo, claro, somos nós, espectadores, que assistimos de camarote essa briga de egos inflados.

Outro exemplo de péssimo jornalismo, tão tangível quanto esse da briga Globo x Record, aconteceu na revista Veja, da Abril, a quarta maior em tiragem do mundo e a maior do país. A capa, com um José Serra todo sorridente e a frase "Sempre me preparei para ser presidente", deixa explícito muitas coisas. Todas contra o PT. Todas à favor do tucano. Será que a revista pensa que o público é trouxa? Será que ela não vê que é totalmente perceptível o apoio dela ao candidato à presidência? Sim, ela sabe de tudo isso, e na verdade, pouco se importa.

Wednesday, April 14, 2010

Olha ali, uma Presidenciável!


Dilma foi chegando de mansinho. No início da corrida eleitoral, José Serra, ex-governador do Estado de São Paulo e atual candidato do PSDB à Presidência da República, era tido como vencedor concreto. Marina Silva, que desligou-se do PT para concorrer às eleições pelo Partido Verde (PV), não parecia oferecer muito perigo ao tucano nas urnas. Porém, uma figura, até pouco tempo desconhecida pela sociedade, foi arrecadando possíveis eleitores pelas beiradas. Tida como a “sucessora espiritual” do atual Governo Federal, ou um “Lula de saias”, Dilma Rousseff (PT) foi caindo no gosto popular. Seja por acompanhar Lula em suas viagens por todos os cantos do Brasil – onde o petista faz questão de elogiar seus atos no governo e falar que, nas mãos dela, o país continuaria a crescer, fazendo inclusive com que o presidente recebesse algumas multas -, seja por anúncios grandiosos de benefícios à classe mais pobre, mesmo com muitos ainda não finalizados, a ex-guerrilheira tem crescido, e muito, nas pesquisas de intenções de votos, onde já aparece empatada, tecnicamente, com o tucano que tinha como certa sua mudança do Palácio dos Bandeirantes para o Palácio do Planalto.
Agora, com chances concretas de suceder a faixa presidencial do seu “companheiro” de partido, Dilma já não se mostra mais como aquela figura até então desconhecida. Os brasileiros a conhecem, apenas, como a ex-Ministra da Casa Civil e candidata à Presidência da República. Porém, Dilma nasceu em 14 de dezembro de 1947, portanto, tem 62 anos. O que ela fez durante mais de seis décadas para se tornar a atual queridinha de Lula, sim, ainda continua um mistério. Seria muito interessante mostrar aos jovens, que vão precisar escolher, entre vários candidatos, apenas um para comandar o país, mais sobre a história de vida dessa economista, sua trajetória política até a campanha que promete colocar, na posição máxima do governo brasileiro, pela primeira vez, uma mulher.

Wednesday, April 7, 2010

No ouvido dos outros é refresco

Final de mais um longo dia de trabalho. Ônibus coletivo lotado, com gente saindo pelo ladrilho. Já não bastasse todo o cansaço acumulado durante o dia, ainda há pela frente uma árdua jornada: horas e mais horas na universidade, só para depois, bem depois, poder, quem sabe, descansar e recomeçar tudo novamente. Essa é a rotina, todos os dias, de centenas de milhares de estudantes pelo Brasil - e, claro, é a minha também. Mas, é como diz o velho ditado, "tudo que está ruim pode piorar".


Pois bem, voltemos ao cenário anterior. 18:05h. Comecinho da noite. O ônibus coletivo municipal ziguezagueia pelas ruas da cidade, em direção à mais uma noite de estudos. Bancos totalmente lotados, assim como o corredor do veículo. Um mar de mão encimava a cabeça dos passageiros, procurando um ponto de apoio para protejer-se de um possível tombo. Como se a experiência já não fosse ruim o suficiente, adicione a ela uma pessoa com o mínimo de respeito e bom senso possível, com um celular que parecia acoplado à um auto-falante, tocando uma música prá lá de esquisita (nada contra o forró, mas...).

Ok, cada um tem seu gosto musical. Mas ninguém ao redor é obrigado a gostar daquilo que os mais mal-educados preferem ouvir. Será que a pessoa nunca ouviu falar de fone de ouvido? Então, é uma invenção nova, na qual você pode ouvir a música que quiser, poupando as pessoas ao redor de compartilhar de um momento de gosto musical duvidoso. Moço, fone de ouvido. Fone de ouvido, moço. Agora estão devidamente apresentados. Uma parada numa esquina, e lá vai o rapaz, com seu celular-auto-falante emitindo aquela música lastimável. Eis que me dou conta: eu não era o único em querer enxotar o rapaz dali. Foi ele descer do veículo que o burburinho começou. "Que falta de respeito", dizia uma senhora perto de mim. Olha, senhora, compadeço da sua indignação, pensei eu.

Essa foi apenas uma das vezes que presenciei essa atitude de querer transformar o ônibus num verdadeiro bailão. Quem precisa usar os coletivos municipais ou intermunicipais estão fadados a presenciar isso, do mesmo modo que estão destinados a cochilar de boca aberta ou ter que ficar próximo à alguém que esqueceu de usar o desodorante. Vida emocionante a daqueles que usam os "busão".

Thursday, April 1, 2010

O cão e o menino

O ônibus parou lentamente, levantando uma nuvem de poeira em frente à pequena propriedade, na área rural da cidade. Era um terreno de mil metros quadrados, com uma casa construída próximo à cerca. De resto, árvores frutíferas e hortas preenchiam o espaço. A porta do veículo abriu-se e o garoto desceu os degraus da entrada eufórico. Cabeças jovens emergiram de dentro do ônibus através das sujas janelas, emitindo gritinhos e risadas. Algumas mãos acenaram um "tchau" tímido. Porém, o garoto não percebeu nenhuma dessas ações. Enquanto a porta do coletivo se fechava e o veículo partia pela rua de terra batida, o garoto jogou a mochila nas costas e disparou, apressado, em direção à chácara onde morava.

Tirou a corrente que prendia o portão e entrou, apressado. Passou pela garagem e entrou, num salto, na cozinha. Sua mãe estava ao fogão, terminando de preparar o almoço. "Cadê ele?", perguntou o garoto, enquanto tentava recuperar o ar que lhe faltava aos pulmões. "Lá fora, amarrado", respondeu a mulher, indicando a direção com a cabeça. O menino jogou a mochila sobre a mesa da cozinha, deu meia volta e saiu para o quintal. Olhou ao redor e o viu, dormindo, sob uma mangueira, aproveitando a sombra que a árvore disponibilizava naquele dia de calor. Uma corda fina prendia-o no tronco da árvore.

O pastor alemão ainda era um filhote, mas prometia tornar-se um espécime de qualidade da raça. Tinha pastas largas e grandes, um pelo dourado e cedoso e um tamanho maior do que o normal para a idade. O garoto aproximou-se do cão, eufórico e animado. Mas essa sensação durou pouco, muito pouco. Durou até a hora em que ele aproximou-se demais do animal, acordando-o do seu sono leve e fazendo com ele ele avançasse, com os dentes à mostra e um olhar raivoso, para cima do menino. Este, por sua vez, recuou, até um ponto onde o cachorro, limitado, pelo pequeno pedaço de corda preso à sua coleira, não o alcançasse.

Os dois ficaram ali, se encarando por um certo tempo. Olhos fixados, um no outro. O menino, com a boca aberta, assustado; o cão, com os dentes à mostra, com o pelo eriçado, latia, sem perder o fôlego, para o garoto. Toda a animação presente no garoto evaporou-se como água nesse momento. Por semanas os pais haviam prometido trazer para casa um cachorro. Ele, em sua cabeça, já se via brincando toda a tarde com o novo amigo. Até tinha pensado em chamar os coleguinhas. "Ei, vejam, é o meu cachorro". Mas ali, diante daqueles dentes afiados e latidos intimidadores, esses pensamentos escapavam de sua mente como areia por entre os dedos.

Naquele dia, o garoto não sabia que aquele cachorro, assustador, iria ser inesquecível em sua vida. Os dias foram passando. Os dois foram crescendo, o pastor mais, o garoto, menos. E a ideia que o menino tinha do animal foi mudando. Ele tinha certeza de que, todos aqueles sonhos de ter um companheiro de quatro patas em casa cairiam no esquecimento, tamanha a fúria do animal quando ambos se conheceram. Porém, conforme crescia, e ele crescia muito, o cão, ao invés de ficar ainda mais raivoso, foi se acalmando. Se antes ele estraçalhava qualquer felino que se aproximasse demais dele, agora, ele servia de travesseiro para os pequeninos "amigos".

Com o garoto também foi assim. A convivência, diária, mudou a percepção de ambos. Meses depois, já adulto, o cachorro era imenso. Mas mantinha suas características. As patas largas e grandes, o pelo dourado e macio e os dentes afiados. Mas ele já não avançava sobre o garoto, visando, quem sabe, uma refeição. Não. Agora, na falta de um cavalo, o menino cavalgava o cão, que disparava pela chácara, derrubando o pequeno na grama. Ou então, se atirava no mato denso em busca de um graveto jogado pelo garoto. Às vezes, ao invés de um pedaço de madeira, voltava com uma galinha morta na boca, com o rabo chocalhando, todo feliz. O garoto havia conseguido o cão que tanto sonhava.

Mas os anos passaram. E ai, quem cresceu foi o garoto. Já não podia mais montar o cachorro, que já dava sinais de cansaço. Já era quase um idoso. As brincadeiras com o menino diminuíram ao passo que as amizades "humanas" dele aumentavam. Até que a vida em meio ao mato deu lugar à vida corrida da cidade. Caminhão cheio com a mudança, o cão nunca mais veria as árvores onde ficou preso quando filhote. Também nunca mais mataria as galinhas do vizinho, que teimavam em ciscar o terreno de seu dono.

Na cidade, foi-lhe reservado um pequeno espaço de terra batida. Ali, poucas pessoas lhe davam atenção. O garoto crescera, e mal ficava em casa. Preferia se divertir na rua com os novos amigos, enquecendo-se do antigo, ali, preso, atrás do portão. Talvez a tristeza tenha ajudado na disseminação da doença que acabou por atingi-lo. A falta que o mato lhe fez prejudicou-lhe as patas, infeccionadas por causa do cimento. E dá-lhe remédios. Aos poucos, ele já não conseguia mais andar. Arrastava-se pela casa, mas o cansaço batia logo, devido ao porte grande e à idade avançada.

Assim, recebia a atenção da família, mas não porque os divertia, como antes, mas porque estava no fim de sua vida. Esperou até que todos estivessem reunidos para colocar a cabeça sobre as patas e descansar, eternamente. O garoto chorou. Poucas vezes havia chorado, mas chorou ao perder o velho amigo, o qual não havia dado a devida atenção nos últimos anos. Lá, no dia em que ambos se conheceram, ele não podia imaginar que um simples cão poderia lhe marcar tanto. Hoje, ele sabe o quanto o amigo de patas largas e pelo dourado lhe faz falta.