Friday, October 22, 2010

Serra, Globo e a bolinha de papel

Eu meio que prometi para mim mesmo que não publicaria nada sobre política e sobre as eleições deste ano no blog. Não que eu não me interesse, muito pelo contrário. Tenho acompanhado de perto e na medida do possível tudo sobre os candidatos, desde o primeiro turno. Porém, alguns acontecimentos nesses últimos dias simplesmente não puderam passar despercebidos, e eu terei de comentá-los aqui. Então ,se você tem paciência e quiser ler, e analisar se discorda ou não, continue lendo. Mas se tiver outra coisa à fazer, tudo bem.

E que fique claro logo no início do post: não sou petista, tanto que votei em Marina Silva (PV), para a vaga de presidente da República no primeiro turno. Mas se tem um candidato à mesma cadeira que eu simplesmente não engulo é o tucano José Serra. Ele, que afirma ter uma experiência na política como prefeito, deputado, senador e governador, parece não ter aprendido nada em todos esses cargos, a não ser à atuar. Isso ele faz melhor do que muitos atores da Rede Globo, sua fiel escudeira à lá Sancho Pança, que também terá seu momento de glória nesse texto.

O fato que, para mim, foi a gota d'água aconteceu no Rio de Janeiro, no começo dessa semana, durante campanha do candidato do PSDB. OK, você já sabe da famigerada histórinha da, hora bolinha de papel, hora rolo de fita crepe. O fato é que Serra se aproveitou, muito espertamente por sinal, do acontecido. É só ver a capa da Folha (ao lado), desta quinta-feira (21). Ela mostra um José Serra todo "dolorido" por causa de um objeto atirado contra sua cabeça - uma bola de papel e um pouco de fita adesiva, quando poderia ter sido um tijolo.

O tucano foi levado a um hospital, fez exames, alegou que o partidários do PT realizaram a "agressão" e chamou a todos de nazistas e fascistas. A verdade é que José Serra está desesperado, e já não sabe mais o que faz para tentar atrair novos votos para vencer Dilma Rousseff nas urnas no próximo dia 31. E quando digo que ele não aprendeu a fazer política, como alega, em todos esses anos como prefeito, governador e blá-blá-blá, é porque isso é visível até mesmo ao mais fervoroso dos coligados ao PSDB. Serra já foi o "Zé" no horário eleitoral, já disse que veio de família pobre e que sempre governou para o pobre, se fez de coitadinho, disse que Lula tem uma forte e importante história política e chegou ao cúmulo de dizer que é mais próximo do atual presidente do que Dilma.

Qualquer um percebe o efeito "Lula" sobre Serra. Mas, ao contrário dele, Lula sempre defendeu esse seu lado, ao contrário do tucano, que abusa da carinha - que não convence, candidato, não convence - de bom moço, de família operária e de estudante de ensino público - que nunca levou uma bolinha de papel na cabeça - para tentar atrair votos da classe mais baixa e (quem vamos enganar?), dos nordestinos.

Como se tudo isso já não fosse deprimente o suficiente... Aaahhhhhh, ainda temos a Toda-Poderosa Vênus Platinada Rede Globo de Televisão, que graças à evolução da raça humana, hoje já não é tão "toda-poderosa" quanto antigamente. Quem assistiu ao Jornal Nacional e ao Jornal da Globo na noite desta quinta, pode acompanhar a defesa da emissora para com José Serra. Foi vergonhoso. E, chego a afirmar, que qualquer pessoa, qualquer uma, sentiu nojo ou repulsa ao assistir aqueles sete minutos de reportagem. Eu senti. Cheguei a sentir vergonha de ser jornalista.

A matéria mostrando o porque das câmeras da Globo não terem filmado a "agressão" à José Serra, enquanto a concorrente o fez, foi deprimente. Pior foi ver comparações, insinuações, como se ela quisesse dizer assim: "Olha, você ai, tá vendo, meu candidato foi covardemente agredido pelos nazistas do PT e isso não pode ficar imune! Vota no Serra, vai, para que assim eu ganhe mais dinheiro! Por favor!".

Se uma emissora de tv, ou qualquer outro veículo de comunicação, apoia determinado candidato, que deixe isso muito bem explicado aos espectadores! Agora, fazer essa ceninha, transformando um fato à toa num desastre mundial à lá tsunami, é o cúmulo do puxa-saquismo. Fico me perguntando: e se, hoje, outros canais de tv não fossem tão importantes quanto a Globo? E se a internet não existisse? E se Serra não tivesse se transformado em piada no Twitter? Eu mesmo cheguei à uma conclusão: teríamos, no século 21, ano de 2010, uma nova eleição de 1989 no currículo da história nacional.



Wednesday, October 6, 2010

"Tropa de Elite 2": um dos melhores filmes do cinema nacional dos últimos tempos


Não há como negar que Tropa de Elite 2, continuação de um dos filmes mais polêmicos dos últimos tempos no cinema nacional, é um dos longas mais aguardados do ano. Ainda mais depois de comentários do próprio diretor, José Padilha, e do astro-mor do filme, Wagner Moura, afirmando que Tropa de Elite 2 é ainda melhor do que o primeiro. Ai você me pergunta: será que uma continuação pode superar o filme original? É difícil chegar a uma conclusão, já que ambos têm temáticas diferentes. Mas pelo menos na história do Capitão Nascimento e do BOPE, a resposta é sim. A pré-estréia aconteceu nesta terça, em Paulínia (SP), e o filme chega aos cinemas nesta sexta-feira, dia 08.

O segundo filme se passa 10 anos após os acontecimentos do primeiro e mostra um Nascimento (Wagner Moura), ainda mais carrancudo e envolto em seus próprios fantasmas. Depois de uma operação que dá errado do BOPE, no presídio de segurança máxima Bangu I, no Rio de Janeiro, o ex-capitão e agora Coronel, comandante-geral do esquadrão, acaba sendo expulso da corporação. Porém, a polícia prefere mantê-lo por perto, e lhe entrega o cargo de Sub-Secretário de Inteligência.

No seu novo cargo, Nascimento faz o BOPE crescer, tanto em número de membros, quanto em atuação. Novas armas são adquiridas, e o esquadrão tem muito mais força agora, para enfrentar o tráfico. Porém, o ex-coronel não se dá conta de que, ao fortalecer o BOPE, também está ajudando inimigos muito maiores e mais perigosos: a própria polícia carioca e políticos corruptos, todos com uma vontade em comum, que é a de acabar, de vez, com Nascimento.

O roteiro, assinado por Bráulio Mantovani (parceiro do diretor no primeiro longa) e também por Padilha, é, de longe, a melhor parte do filme. Denso, complexo, muito bem construído e cheio de reviravoltas. E, ao que parece, ambos resolveram deixar os bordões de lado (tem um aqui e outro ali, mas nenhum tão forte) e focarem na história. Nada de Pede pra sair, e frases de efeito desse tipo, só um Missão dada é missão cumprida. Tudo está mais denso, o que mostra que esse filme é muito mais maduro e evoluído do que o primeiro. A dupla também utiliza da ficção para levar às telas fatos que acontecem no sistema de segurança, como rebeliões em prisões, grampos telefônicos e CPIs que dão em pizza.

Se o roteiro evoluiu, e muito, em comparação ao primeiro filme, o mesmo pode ser aplicado à fotografia. Por todo o filme, cenas belíssimas e bem construídas fazem o espectador babar, mesmo elas sendo de favelas, que convenhamos, não são um colírio aos olhos. Algumas merecem destaque, como a cena na qual um grupo de crianças joga futebol, despreocupadas, num campinho poeirento e são surpreendidas pelo helicóptero do BOPE (lembra que eles estão bem mais equipados, agora?), ou então um plano geral da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, já no final do filme. São todas imagens simples, mas que acabam tornando-se muito bonitas, devido à ótima fotografia (méritos de Lula Carvalho).

Outro ponto que merece destaque, claro, são as atuações. O ótimo Wagner Moura encarna com muita competência o Coronel Nascimento, agora mais velho e tão nervoso quanto no filme anterior. Incrível como o ator se entrega ao personagem, e é isso que o faz ser tão querido entre os brasileiros. O restante do elenco não fica atrás. Irandhir Santos vive Fraga, um membro dos Direitos Humanos que é eleito Deputado Estadual e luta contra a violência nos morros, enquanto André Ramiro volta ao papel de Mathias, agora capitão do BOPE.

O fato é que Tropa de Elite 2 tem muito mais pontos fortes do que fracos. Entre os negativos, os fãs do primeiro filme podem achar esse filme político demais, sem as grandes perseguições e ataques do primeiro, embora essas cenas estejam bastantes presentes no longa. O que não deixa de ser uma verdade. Porém, foi uma decisão para deixar o filme muito mais maduro, e ao que parece, José Padilha acertou no rumo que deu à sua produção.

Tropa de Elite 2 é um dos melhores filmes brasileiros à chegar aos cinemas nos últimos anos. Se vai repetir o sucesso do primeiro, se vai arrebentar na bilheteria, se vai angariar ainda mais fãs para o já adorado Nascimento (aplaudido pela platéia da pré-estréia em um certo momento, ao surrar a cara de um político), não dá para saber. Mas a verdade é que, se tudo isso acontecer, não será por sorte, e sim, por merecimento.