Friday, December 24, 2010

Feliz Olhar Novo!

O grande barato da vida é olhar para trás e sentir orgulho da sua história.
O grande lance é viver cada momento como se a receita da felicidade fosse o aqui e o agora. Claro que a vida prega peças. É lógico que, por vezes, o pneu fura, chove demais... Mas, pensa só: tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia? Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussão na ida pro trabalho?
Quero viver bem! Este ano que passou foi um ano cheio. Foi cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de problemas e desilusões. Normal. A grana que não veio, o amigo que decepcionou, o amor que acabou. Normal.
O ano que vai entrar não vai ser diferente. Muda o ano, mas o homem é cheio de imperfeições, a natureza tem sua personalidade que nem sempre é a que a gente deseja, mas e aí? Fazer o quê? Acabar com o seu dia? Com o seu bom humor? Com a esperança?
O que desejo para todos nós é sabedoria!
E que todos saibamos transformar tudo em uma boa experiência! Que todos consigamos perdoar o desconhecido, o mal educado. Ele passou na sua vida. Não pode ser responsável por um dia ruim... Entender o amigo que não merece nossa melhor parte. Se ele decepcionou, passe-o para a categoria 3, a dos amigos. Ou mude de classe, transforme-o em colega. Além do mais, a gente, provavelmente, também já decepcionou alguém.
O nosso desejo não se realizou? Beleza, não tava na hora, não deveria ser a melhor coisa para esse momento (me lembro sempre de um lance que eu adoro):
Cuidado com seus desejos, eles podem se tornar realidade.
Chorar de dor, de solidão, de tristeza, faz parte do ser humano. Não adianta lutar contra isso. Mas se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade as coisas ficam diferentes.
Desejo para você esse olhar especial.
O ano que vai entrar pose ser um ano especial, muito legal, se entendermos nossas fragilidades e egoísmos e dermos a volta nisso. Somos fracos, mas podemos melhorar. Somos egoístas, mas podemos entender o outro. O ano que vai entrar pode ser o bicho, o máximo, maravilhoso, lindo, espetacular... ou... Pode ser puro orgulho! Depende de mim, de você! Pode ser e que seja!!!
Feliz olhar novo!!! Que o ano que se inicia seja do tamanho que você fizer.
Que a virada do ano não seja somente uma data, mas um momento para repensarmos tudo o que fizemos e que desejamos, afinal sonhos e desejos podem se tornar realidade somente se fizermos jus e acreditarmos neles!!!

(Carlos Drumonnd de Andrade)

Monday, December 20, 2010

"Tron: O Legado" é tentativa falha de reviver série


Estreou neste final de semana uma das grandes promessas para o fnal do ano nos cinemas. "Tron: O Legado" (Tron Legacy, no original), é a tentativa da Disney em fazer um revival de um clássico dos anos 1980, trazendo-o para a contemporaneidade para fazer dele uma nova (e quem sabe), rentável franquia. Porém, diretor e produtores parecem ter errado a mão. São tantas referências à outros filmes (muito mais clássicos do que "Tron"), que o longa sci-fi da Disney acaba pecando pela falta de originalidade. Se a ideia era criar uma nova saga, a empresa errou.

"Tron: O Legado" me surpreendeu por vários motivos. Gostaria que eles fossem positivos, mas infelizmente, a maioria é negativa. A Disney, muito esperta, resolveu colocar sua nova ficção científica numa das épocas mais rentáveis do ano para o cinema (o Natal), mas isso não evitou o que nenhuma empresa gosta de ver: salas vazias, inclusive no Brasil. Lá na terra do "Tio Sam", o filme acumulou cerca de US$ 43,6 no seu primeiro final de semana - pouco, perto do esperado pela Disney (US$ 70 milhões). Mundialmente, o filme conseguiu US$ 66,6 milhões.

Essas salas vazias talvez sejam explicadas pelo recebimento do longa ao redor do mundo. Críticos "desceram a lenha" na produção, afirmando que muito foi investido em visual, mas o mesmo não pode ser dito do roteiro. E realmente, isso fica explícito no decorrer do longa. Com uma história simples, mas que tem a pretenção de ser complexa, alguns diálogos surjem aparentemente "jogados" nas cenas, em meio à um visual primoroso.

Esse, por sinal, é um dos destaques do longa. Com certeza, é o mais belo atualmente em cartaz, ainda mais bonito do que "As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada", uma produção com visual caprichado. "Tron: O Legado" conta, inclusive, com uma versão digital - e jovem - de Jeff Bridges. Os mais desatenciosos, não tenha dúvida, sequer vão perceber que se trata de um rosto criado por computação gráfica (ou seja, totalmente no computador), tamanho a qualidade dos efeitos. Cenários também seguem esse padrão, assim como os figurinos (que são estupendos).


Outro ponto que merece ser lembrado de maneira positiva é a trilha sonora. Com uma mescla do melho do "beat" dos anos 1980, com o que há de mais moderno na música eletrônica, não estranhe se você bater seu pé no ritmo da música na cena da boate, por exemplo. A banda Daft Punk também não decepciona. Assista e você vai entender.

Porém, os lados bons da produção param por ai. Como já dito, "Tron: O Legado" tem um roteiro mal construído e diálogos pobres. Na trama, Sam Flynn (Owen Best), é (só pra variar), um rebelde sem causa que vai se tornar um salvador. Ele busca informações de seu pai, Kevin Flynn (Jeff Bridges), criador do game "Tron", que desapareceu há anos. Seguindo pistas deixadas por ele, Sam acaba "entrando" no mundo paralelo e vitual de "Tron", onde precisa encontrar seu pai e salvar sua própria pele.

Ai entram novos pontos negativos. Essa história de mundo virtual já foi nos apresentado à exaustão. Isso até era novidade no primeiro "Tron", de 1982, mas hoje em dia beira o clichê. Ainda mais depois que a saga "Matrix" tratou desse assunto de maneiro tão profunda. Você ainda vai encontrar referências à "Star Wars" aqui e acolá, como em algumas cenas de naves e outras onde Sam usa uns capuzes onde, cá pra nós, fica parecendo um Jedi.

Agora, se o assunto é a atuação dos atores, nada que valha a pena comentar muito. Até mesmo Jeff Bridges, que venceu o Oscar no ano passado pela sua atuação em "Coração Louco" (Crazy Heart), parece salvar o filme. O mesmo vale para Owen Best, que não chama a atenção em nenhum momento.

Jogando tudo na balança, parece que "Tron: O Legado" foi inteiramente produzido para quem assistiu - e gostou - do seu antecessor, lá em 1982. Não é o meu caso, afinal, nunca vi tal filme. Mas dei uma chance por ser um tão falado revival. Fica a sensação de que faltou algo ao filme - e pelo final, acho difícil a Disney transformar esse filme em franquia.



Friday, December 17, 2010

Girassóis

Um dia cinzento numa cidade feia.
Ruas movimentadas e barulhentas. Carros novos e velhos, motocicletas e bicicletas. Ônibus abarrotados. Caminhões gigantes e grosseiros. Pedestres atrevidos. Buzinas, conversas, gritos, motores, freios, aceleradores. Movimento e barulho.
Ruas sujas e mal-cheirosas. Pichações em paredes limpas. Pichações em paredes sujas. Concreto. Cinza por toda a parte. Lixo espalhado na sarjeta. Entulho atrapalhando o caminho. Cheiro de esgoto misturado ao cheiro de pão assando. Gente que não passou desodorante ao lado de gente que passou desodorante demais.
Uma subida eterna numa dessas ruas. Um muro sujo, com grades de ferro colocados para impedir roubos. Saltos. O muro sujo e as grades gastas protegem mato. Muito mato. Em meio ao verde vivo, o amarelo iluminador de uma flor. Vários pontos amarelos em meio ao verde.
Girassóis.
Girassóis em meio à um dia nublado e cinzento.
Um dia sem sol, mas iluminado por muitos girassóis.
Um sorriso brota numa face tristonha, assim como a luz brota num dia cinzento.

Monday, December 13, 2010

"Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada" mescla aventura e religião

Assistir à "As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada", terceiro filme da série baseada nos livros de C. S. Lewis, foi uma experiência interessante. Eu estava em meio à um grupo de quatro pessoas, e dessas, apenas duas (eu e meu irmão), somos profundos conhecedores do reino narniano (lemos todos os livros e acompanhamos os filmes lançados anteriormente). Uma terceira pessoa nunca leu os livros, mas já assistiu "O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa" e "Príncipe Caspian", precursores deste longa. A quarta pessoa jamais leu os livros ou assistiu os demais filmes. Mas ao final da exibição, todos tinham a mesma opinião: o terceiro longa é bom, e atende todos os públicos.


Do meu ponto de vista, isso é bom. Ao mesmo tempo que "A Viagem do Peregrino da Alvorada", mesmo sendo o terceiro de uma série de filmes, não deixa brechas para dúvidas, mesmo fazendo referência aos filmes anteriores, ele também brinda os fãs mais ardorosos da franquia com detalhes que os demais não vão captar, como a citação de Jill Pole ao final da aventura, deixando claro que os produtores querem, e muito, continuar a saga com "A Cadeira de Prata", que na humilde opinião deste que vos escreve, é o melhor de todos os livros.

Claro, muita coisa remete aos filmes anteriores, como por exemplo, quando Lúcia (Georgie Henley) e Edmundo (Skandar Keynes), ao serem resgatados do mar por Caspian (agora Rei), questionam se ele os havia convocado. E ele responde que não (para quem não sabe, Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia, no segundo filme, vão à Nárnia após um chamado de Caspian). São pequenas as referências, que não atrapalham, já que os fãs conhecem a história a fundo, e para os mais leigos, não chegam a atrapalhar.

Claro, a terceira aventura traz muitas novidades. A primeira delas é o primo estressado dos irmão Pevensie, Eustáquio Scrubbs (Will Pouter). Toda a história de "A Viagem do Peregrino da Alvorada" é contada pelo seu ponto de vista, que não é dos melhores, diga-se de passagem. Junto à Lúcia e Edmundo, ele acaba indo à Nárnia para ajudar Caspian a encontrar os sete fidalgos desaparecidos, ao mesmo tempo, livrar o país de um mal muito pior.

E Eustáquio é, de longe, um dos melhores personagens desse filme. Estreando no universo narniano, Pouter, ator mirim que interpreta o rabugento e mimado garoto, dá um show de interpretação e coloca atores já conhecidos na franquia, como Keynes, o Edmundo, no chinelo. O que é extremamente importante, já que num possível próximo filme ("A Cadeira de Prata"), sem os irmãos Pevensie, é Eustáquio, ao lado da jovem Jill, quem deve segurar as pontas. Henley, a Lúcia, por sua vez continua a mesma gracinha de sempre.


De resto, esse terceiro filme segue à risca os anteriores. Efeitos especiais de cair o queixo e uma trilha sonora incrível (para mim, uma das melhores entre os filmes de fantasia). Aslam está mais lindo (e real) do que nunca, assim como Ripchip, o simpático roedor espadachim. Mas se algo mudou, esse algo é o roteiro. Para quem leu os livros de Lewis, sabe que ele é sempre direto. Por isso, os roteiristas acrescentaram elementos no filme, como uma batalha final mais "nervosa". Isso ajuda a enriquecer a trama, uma vez que o livro não tem uma história tão complexa.

Outra coisa que deve ser citada é o enfoque mais humano (e até religioso), que esse filme desenvolve. Logo no início, vemos uma Lúcia já crescida, até mesmo interessada em garotos e em ficar mais bonita. Isso foi abordado, de maneira sutil, por Lewis em "A Última Batalha", sétima das crônicas, mas com Susana. O diretor Michaal Apted também resolveu (quase), dar nome aos bois e deixa quase explícito que Aslam, o Leão, é a representação de Deus, numa das cenas finais.

De um modo geral, "As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada", pode ser definido assim: uma mistura entre o primeiro e o segundo filmes da série. Ele mescla elementos mais teológicos, bastante abordados no primeiro longa, com cenas mais violentas de batalha criadas no segundo. A mistura não é ruim, mas, como dito no começo da análise, o resultado final não passa do "bom" (em tempo, ainda acho estranho crianças batalhando e empunhando espadas melhor do que adultos).

Friday, December 10, 2010

As pessoas mais sortudas do mundo!


Sério: elas nasceram de novo!

Você. Quatro pessoas. Um elevador quebrado. E o Demônio

A sinopse é simples, mas funcional: cinco pessoas ficam presas dentro de um elevador. Uma delas é o Demônio. O Coisa-Ruim. O Pestilento. O Diabo em pessoa. Lúcifer. O Anjo Caído. Ok, acho que você já entendeu. "Demônio" (Devil, no original em inglês), chegou por aqui no dia 26 de novembro, prometendo levar pânico aos espectadores. Embora possua um roteiro muito bem construído por M. Night Shyamalan (sim, ele mesmo, de "O Sexto Sentido"), o filme dirigido por John Erick Dowdle assusta pouco.


Um Segurança com claustrofobia. Uma velhinha estressada. Uma golpista de marca maior. Um vendedor de colchões. Um mecânico. Esse é o grupo que fica preso no elevador, no 17º andar de um edifício. E é ai que o personagem título surge. Praticamente toda a ação se dá dentro do elevador, o que acaba por preparar o espectador. Por exemplo, antes que uma morte aconteça, as luzes se apagam, lançando o espectador num breu total. Quando elas voltam a se acender, alguém já morreu.

Como dito anteriormente, o roteiro é simples, mas muito bem escrito, contando até com uma mescla entre filme de terror, suspense e policial. As atuações, embora não sejam nada extraordinário, cumprem seu papel. O melhor do filme, com certeza, é a dúvida que ele gera. Afinal, assim como as pessoas presas, todos querem saber quem ali dentro está cometendo os crimes.

Obviamente, eles chegam a conclusão de que algum deles possa ter o demônio no corpo. Tem uma explicação para isso: no início do filme, uma "lenda" é contada, dizendo que um suicídio sempre "abre a porta" para que o Diabo entre no nosso mundo. Uma vez aqui, coisas ruins passam a acontecer (do tipo, o pão cai com a geleia para baixo e coisas desse tipo). E, adivinhe? Claro, o filme começa com um suicídio! \o/

Se você quer ver um filme que te assuste de verdade e te deixe com medo até da sua sombra, "Demônio" não é seu filme. Embora bem construído, foi erroneamente classificado como Terror. É Suspense. Nada muito fora do comum, mas é suspense. O que ele pode fazer, no mínimo, é te fazer pensar duas vezes antes de entrar num elevador. Ou de bater um papo com o "Demo".



Tuesday, December 7, 2010

A amizade emociona


Lá estava ele, no palco, lugar onde adora estar. Mas dessa vez era por outro motivo. ELe não encarnava nenhum personagem, era ele mesmo. A sua camiseta estampava os arlequins do anonimato, da fama e do esquecimento, enquanto seu rosto estampava um nervosismo sem fim. Então, ele agradeceu e começou a falar. Oratória nata, claro. Encantou durante os 30 minutos que lhe eram designados. Continuou encantando também depois, amigos e professores. Assim como eu, ele demorou quatro anos para estar ali. Quatro anos de uma certa dor de cabeça, que já começa a dar saudade.

Ao término, as palmas. E elas vieram arrebentando tudo, como uma onda que estoura na praia na maré alta. Ele fechou os olhos e socou o ar. "Consegui, porra!". Não leio mentes, mas tenho quase certeza que foi nisso que ele pensou. Foi exatamente o que eu pensei quando terminei de falar também. A banca, só elogios. Rasgados. Sem suspense. E veio o "Aprovado", aquela palavra que todos esperam (e querem), ouvir nessa altura do campeonato. E com ela veio uma nova onda de aplausos, gritos e assovios. Vieram pulos lá no palco e novos socos no ar. Vieram as lágrimas. De felicidade.

Todos estavam felizes.
Ver um amigo se dar bem na vida é algo que faz bem pra nossa alma.
Enquanto escrevo essas palavras, olho para a capa de "Trifásico" e me orgulho dele. Do seu autor. Não tive relação nenhuma com o resultado final, mas ver ali, naquela folha de papel, aquela dedicatória direcionada a mim, emociona. A amizade emociona.

Monday, December 6, 2010

Quatro anos. Cinco meses. Uma sigla. Uma palavra.

2007. 2008. 2009. 2010...
Esses foram os anos que eu passei dentro de uma faculdade, mais precisamente, a de jornalismo. Entrei sem saber se era isso mesmo que eu queria para mim, passei pela crise do segundo ano, cheguei ao terceiro mais motivado e entrei no quarto e último pensando que fiz a escolha certa. Que bom.
Julho, Agosto, Setembro, Outubro, Novembro...
Os quatro anos anteriores nos prepararam para esses cinco meses em específico. Aquele em que devemos colocar em prática tudo o que aprendemos até então. Criação de Pautas. Finalização de Roteiros. Gravações de Sonoras. Entrevistas. Decupagens. Coisas que se tornaram atividades cotidianas.
TCC...
Correria. Brigas. Discussões. Mais correria. Agendas lotadas. Horários ingratos. Entrevistas desmarcadas. Fontes não localizadas. Viagens caras. Equipamentos caros. Nervosismo. Estresse. Noites mal dormidas. Trabalho de lado. Família de lado. Vida social de lado. Isso é só um aperitivo de como é fazer um Trabalho de Conclusão de Curso, independente da mídia escolhida. Tudo isso só para ouvir uma única palavra...
"Aprovado".

Friday, November 26, 2010

A Cidade das Cabeças Baixas


Era uma vez uma cidade como qualquer outra. Era uma cidade cheia de prédios altos, ruas movimentadas, motoristas histéricos, vielas mal-cheirosas, mendigos jogados na sarjeta e lojas de madames infelizes. Na caída da noite, quando a iluminação natural do sol dava lugar à escuridão acolhedora, luzes artificiais iluminavam bares toscos, prostíbulos abarrotados e assaltantes no aguardo de sua próxima vítima. Como dito, era uma cidade como tantas outras espalhadas pelo mundo. Mas uma coisa era muito particular nessa cidade: todos caminhavam de cabeças baixas, olhando para o chão, olhando os próprios pés. Por isso, o lugar era conhecido como "A Cidade das Cabeças Baixas".

Na "Cidade das Cabeças Baixas", nenhuma pessoa cumprimentava a outra pela manhã, durante o café. Ao acordar, as pessoas sentavam-se à mesa e comiam, fixos no prato à sua frente, em silêncio. Pareciam seres estranhos. Na "Cidade das Cabeças Baixas", ao sair de casa e caminhar pelas ruas, as pessoas não se olhavam. Os mendigos, jogados ao chão, eram a principal visão dos moradores, assim como as bocas-de-lobo, as raízes das árvores, os pés dos transeuntes. Ninguém se importava com os olhos das pessoas. Na "Cidade das Cabeças Baixas", tudo, e todos, pareciam tristes.

Em meio à todas essas pessoas havia um rapaz. E ele era exatamente como os outros, afinal, morava na "Cidade das Cabeças Baixas". Ele também andava cabisbaixo pelas ruas, sem admirar a beleza de um céu azul ou o brilho das estrelas presas no veludo escuro da noite. Mas, um dia, a vida desse garoto mudou. O sol já dava lugar ao crepúsculo diário da cidade. Assim como em todos os dias, os carros passavam, velozes, na ânsia de chegar às suas garagens. Mãos nervosas acionavam as buzinas. Mães nervosas berravam com os filhos. Um mar de gente de cabeças baixas, e o jovem era apenas mais um gota.

Foi quando ele avistou um objeto no chão, próximo à um alto edifício residencial. O rapaz parou, e ficou observando. Ombros apressados batiam contra o seu, fazendo-o perder o equilíbrio. Ele abaixou-se e pegou o objeto. Não era nada demais, só um celular que, agora, parecia quebrado. O rapaz não deu muita importância, mas quando se preparava para continuar sua caminhada, foi surpreendido por uma voz:

- Hei, você! Isso aí é meu! - gritou uma voz doce e agradável, que parecia vir do alto.

Incrível como a gente nunca sabe quando vamos fazer algo pela primeira vez na vida. Foi assim que aconteceu com o rapaz. Ao ouvir aquele chamado, ele levantou o olhar para o prédio. Era a primeira vez que ele via algo tão bonito. Não, não me refiro à construção em si, uma série de apartamentos com belas janelas brancas com cortinas esvoaçantes, assim como também não me refiro ao céu colorido, que ia do azul ao roxo, passando por uma explosão escarlate do final da tarde, tudo isso elementos do cotidiano nos quais ele nunca havia reparado. Me refiro à dona da voz, com seu cabelo louro jogado para trás pelo vento. A garota postava-se debruçada sobre o parapeito de um dos apartamentos, olhando para baixo, mas de uma maneira diferente de como o garoto olhava.

E ela o fixava. Havia falado com ele, que por sua vez, ficou paralisado. Eram tantas novidades no seu mundinho cabisbaixo. Teve vertigem e quase caiu de costas. Naquela cidade onde nunca ninguém olhava nos olhos de outra pessoa, ela o fez. Naquela cidade onde uma pessoa jamais dirigia a palavra à outra, ela também o fez. O garoto sorriu. Também era uma das poucas vezes que ele fazia isso.

- Espere ai! - voltou a gritar a garota, desaparecendo da janela.

O jovem continuou olhando para cima e quando se deu conta, ela estava ao seu lado, imóvel. Sua mão estava estendida, com a palma virada para cima. Com um sorriso, pediu o aparelho de volta. Entorpecido, o rapaz o devolveu. A garota sorriu em agradecimento, mostrando dentes brancos e simpáticos. Deu meia volta, jogando os longos cabelos contra sua face e desapareceu.

Ele ficou ali, parado, em meio à uma gente apressada, que trombava com ele e não pedia desculpas. Ele não se importou. Deu meia volta e olhou o sol poente, lançando sobre a cidade seus últimos raios escarlates. O garoto agradeceu por presenciar uma cena tão bela. Continuou seu caminho pela Cidade das Cabeças Baixas. Mas agora ele sabia que já ão fazia mais parte dela.

Sunday, November 21, 2010

Harry Potter e o início do fim


A cena surgiu na tela do cinema exatamente como eu havia imaginado quando li "Harry Potter e as Relíquias da Morte". Harry Potter, Rony Weasley e Hermione Granger capturados e levados à casa dos Malfoy. Harry e Rony são atirados no calabouço, onde encontram a amiga Luna Lovegood, enquanto Hermione, a sangue-ruim, é torturada pela bruxa Belatrix Lestrange, sangue-puro. Eis que, em meio ao terror, Harry recebe a visita de Dobby, o elfo doméstico liberto por ele em uma outra aventura. Com a ajuda de Dobby, Harry e Rony escapam da masmorra e partem para salvar Hermione. Um confronto com os Malfoy é inevitável. Belatrix ameaça cortar a garganta de Hermione se os amigos não entregarem suas varinhas. Novamente, Dobby surge e afasta Belatrix da jovem bruxa, enquanto Harry desarma Draco Malfoy. Fazendo juras de amizade eterna, Dobby aparata, levando Harry, Rony e Hermione com ele. Leva também uma faca de Belatrix, atirada no último momento, e que acaba matando o elfo doméstico livre.

Não vou negar que chorei no cinema ao assistir essa cena. Essa era, para mim, uma das mais aguardadas de "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1", que estreou nas telas brasileiras na sexta-feira, dia 19, causando furor entre os fãs da série. E foi justamente para esse público que o diretor do longa, David Yates, conduziu a história. A melhor adaptação para o cinema dos livros de J. K. Rowling até agora, HP7 presenteia o espectador e fã do bruxinho com cenas memoráveis que mostram a dor da perda, a força da amizade e a eterna luta do bem contra o mal, aqui representado pelo sanguinário Lorde Voldemort (Ralph Fienes).

Um dos filmes mais aguardados do ano, HP7 mostra o início das buscas do trio de amigos bruxos em busca das Horcruxes, objetos mágicos espalhados pelo mundo que contem parte da alma de Voldemort. Harry precisa encontrar - e destruir - seis Horcruxes. Só então poderá derrotar o Lord das Trevas, ou Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Em meio à sua busca, porém, Harry precisa despistar os Comensais da Morte, eternos seguidos de Voldemort. Nesta tormenta, ainda, Harry conhece o Conto dos Três Irmãos e a lenda das Relíquias da Morte, que juntas, fazem de um bruxo, invencível.

Ver tudo isso no cinema, para muitas pessoas, pode parecer "só mais um filme" de magia. Porém, quem acompanhou a história de Harry e seus amigos desde o início, quando o garoto tinha apenas 10 anos de idade e o acompanhou por todos esses anos, crescendo junto à ele, tem um gostinho especial ao assistir ao sétimo filme, dividido em duas partes. Em HP7 Harry precisa fazer decisões o tempo todo, precisa extrair de dentro dele tudo aquilo que ele tem de melhor, num momento em que tudo que lhe parece familiar vai desmoronando.

Como disse acima, HP7 é a melhor adaptação dos livros de Rowling para o cinema até agora. Claro que isso já era esperado, desde o momento em que foi anunciado que o último livro da saga seria dividido em duas produções. Todos os momentos marcantes estão lá, desde a fuga da casa dos tios trouxas e a morte da fiel companheira Edwirges, até a briga com o amigo Rony, que abandona a jornada.

Não é sequer preciso dizer da parte técnica do longa, já que tudo é de extremo bom gosto. Efeitos especiais de primeira linha, atuações fantásticas - tanto por parte dos personagens principais quanto dos secundários, uma fotografia de cair o queixo, o que já é característica da série. Tudo isso transforma o longa em uma boa opção, também para quem não é tão fã assim da saga do bruxo.

O primeiro HP7 nos dá uma boa ideia do que aguardar da segunda parte da história, que será lançada no meio do ano que vem. Esse foi apenas o início do fim, e foi mehor do que qualquer fã poderia imaginar.


Friday, October 22, 2010

Serra, Globo e a bolinha de papel

Eu meio que prometi para mim mesmo que não publicaria nada sobre política e sobre as eleições deste ano no blog. Não que eu não me interesse, muito pelo contrário. Tenho acompanhado de perto e na medida do possível tudo sobre os candidatos, desde o primeiro turno. Porém, alguns acontecimentos nesses últimos dias simplesmente não puderam passar despercebidos, e eu terei de comentá-los aqui. Então ,se você tem paciência e quiser ler, e analisar se discorda ou não, continue lendo. Mas se tiver outra coisa à fazer, tudo bem.

E que fique claro logo no início do post: não sou petista, tanto que votei em Marina Silva (PV), para a vaga de presidente da República no primeiro turno. Mas se tem um candidato à mesma cadeira que eu simplesmente não engulo é o tucano José Serra. Ele, que afirma ter uma experiência na política como prefeito, deputado, senador e governador, parece não ter aprendido nada em todos esses cargos, a não ser à atuar. Isso ele faz melhor do que muitos atores da Rede Globo, sua fiel escudeira à lá Sancho Pança, que também terá seu momento de glória nesse texto.

O fato que, para mim, foi a gota d'água aconteceu no Rio de Janeiro, no começo dessa semana, durante campanha do candidato do PSDB. OK, você já sabe da famigerada histórinha da, hora bolinha de papel, hora rolo de fita crepe. O fato é que Serra se aproveitou, muito espertamente por sinal, do acontecido. É só ver a capa da Folha (ao lado), desta quinta-feira (21). Ela mostra um José Serra todo "dolorido" por causa de um objeto atirado contra sua cabeça - uma bola de papel e um pouco de fita adesiva, quando poderia ter sido um tijolo.

O tucano foi levado a um hospital, fez exames, alegou que o partidários do PT realizaram a "agressão" e chamou a todos de nazistas e fascistas. A verdade é que José Serra está desesperado, e já não sabe mais o que faz para tentar atrair novos votos para vencer Dilma Rousseff nas urnas no próximo dia 31. E quando digo que ele não aprendeu a fazer política, como alega, em todos esses anos como prefeito, governador e blá-blá-blá, é porque isso é visível até mesmo ao mais fervoroso dos coligados ao PSDB. Serra já foi o "Zé" no horário eleitoral, já disse que veio de família pobre e que sempre governou para o pobre, se fez de coitadinho, disse que Lula tem uma forte e importante história política e chegou ao cúmulo de dizer que é mais próximo do atual presidente do que Dilma.

Qualquer um percebe o efeito "Lula" sobre Serra. Mas, ao contrário dele, Lula sempre defendeu esse seu lado, ao contrário do tucano, que abusa da carinha - que não convence, candidato, não convence - de bom moço, de família operária e de estudante de ensino público - que nunca levou uma bolinha de papel na cabeça - para tentar atrair votos da classe mais baixa e (quem vamos enganar?), dos nordestinos.

Como se tudo isso já não fosse deprimente o suficiente... Aaahhhhhh, ainda temos a Toda-Poderosa Vênus Platinada Rede Globo de Televisão, que graças à evolução da raça humana, hoje já não é tão "toda-poderosa" quanto antigamente. Quem assistiu ao Jornal Nacional e ao Jornal da Globo na noite desta quinta, pode acompanhar a defesa da emissora para com José Serra. Foi vergonhoso. E, chego a afirmar, que qualquer pessoa, qualquer uma, sentiu nojo ou repulsa ao assistir aqueles sete minutos de reportagem. Eu senti. Cheguei a sentir vergonha de ser jornalista.

A matéria mostrando o porque das câmeras da Globo não terem filmado a "agressão" à José Serra, enquanto a concorrente o fez, foi deprimente. Pior foi ver comparações, insinuações, como se ela quisesse dizer assim: "Olha, você ai, tá vendo, meu candidato foi covardemente agredido pelos nazistas do PT e isso não pode ficar imune! Vota no Serra, vai, para que assim eu ganhe mais dinheiro! Por favor!".

Se uma emissora de tv, ou qualquer outro veículo de comunicação, apoia determinado candidato, que deixe isso muito bem explicado aos espectadores! Agora, fazer essa ceninha, transformando um fato à toa num desastre mundial à lá tsunami, é o cúmulo do puxa-saquismo. Fico me perguntando: e se, hoje, outros canais de tv não fossem tão importantes quanto a Globo? E se a internet não existisse? E se Serra não tivesse se transformado em piada no Twitter? Eu mesmo cheguei à uma conclusão: teríamos, no século 21, ano de 2010, uma nova eleição de 1989 no currículo da história nacional.



Wednesday, October 6, 2010

"Tropa de Elite 2": um dos melhores filmes do cinema nacional dos últimos tempos


Não há como negar que Tropa de Elite 2, continuação de um dos filmes mais polêmicos dos últimos tempos no cinema nacional, é um dos longas mais aguardados do ano. Ainda mais depois de comentários do próprio diretor, José Padilha, e do astro-mor do filme, Wagner Moura, afirmando que Tropa de Elite 2 é ainda melhor do que o primeiro. Ai você me pergunta: será que uma continuação pode superar o filme original? É difícil chegar a uma conclusão, já que ambos têm temáticas diferentes. Mas pelo menos na história do Capitão Nascimento e do BOPE, a resposta é sim. A pré-estréia aconteceu nesta terça, em Paulínia (SP), e o filme chega aos cinemas nesta sexta-feira, dia 08.

O segundo filme se passa 10 anos após os acontecimentos do primeiro e mostra um Nascimento (Wagner Moura), ainda mais carrancudo e envolto em seus próprios fantasmas. Depois de uma operação que dá errado do BOPE, no presídio de segurança máxima Bangu I, no Rio de Janeiro, o ex-capitão e agora Coronel, comandante-geral do esquadrão, acaba sendo expulso da corporação. Porém, a polícia prefere mantê-lo por perto, e lhe entrega o cargo de Sub-Secretário de Inteligência.

No seu novo cargo, Nascimento faz o BOPE crescer, tanto em número de membros, quanto em atuação. Novas armas são adquiridas, e o esquadrão tem muito mais força agora, para enfrentar o tráfico. Porém, o ex-coronel não se dá conta de que, ao fortalecer o BOPE, também está ajudando inimigos muito maiores e mais perigosos: a própria polícia carioca e políticos corruptos, todos com uma vontade em comum, que é a de acabar, de vez, com Nascimento.

O roteiro, assinado por Bráulio Mantovani (parceiro do diretor no primeiro longa) e também por Padilha, é, de longe, a melhor parte do filme. Denso, complexo, muito bem construído e cheio de reviravoltas. E, ao que parece, ambos resolveram deixar os bordões de lado (tem um aqui e outro ali, mas nenhum tão forte) e focarem na história. Nada de Pede pra sair, e frases de efeito desse tipo, só um Missão dada é missão cumprida. Tudo está mais denso, o que mostra que esse filme é muito mais maduro e evoluído do que o primeiro. A dupla também utiliza da ficção para levar às telas fatos que acontecem no sistema de segurança, como rebeliões em prisões, grampos telefônicos e CPIs que dão em pizza.

Se o roteiro evoluiu, e muito, em comparação ao primeiro filme, o mesmo pode ser aplicado à fotografia. Por todo o filme, cenas belíssimas e bem construídas fazem o espectador babar, mesmo elas sendo de favelas, que convenhamos, não são um colírio aos olhos. Algumas merecem destaque, como a cena na qual um grupo de crianças joga futebol, despreocupadas, num campinho poeirento e são surpreendidas pelo helicóptero do BOPE (lembra que eles estão bem mais equipados, agora?), ou então um plano geral da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, já no final do filme. São todas imagens simples, mas que acabam tornando-se muito bonitas, devido à ótima fotografia (méritos de Lula Carvalho).

Outro ponto que merece destaque, claro, são as atuações. O ótimo Wagner Moura encarna com muita competência o Coronel Nascimento, agora mais velho e tão nervoso quanto no filme anterior. Incrível como o ator se entrega ao personagem, e é isso que o faz ser tão querido entre os brasileiros. O restante do elenco não fica atrás. Irandhir Santos vive Fraga, um membro dos Direitos Humanos que é eleito Deputado Estadual e luta contra a violência nos morros, enquanto André Ramiro volta ao papel de Mathias, agora capitão do BOPE.

O fato é que Tropa de Elite 2 tem muito mais pontos fortes do que fracos. Entre os negativos, os fãs do primeiro filme podem achar esse filme político demais, sem as grandes perseguições e ataques do primeiro, embora essas cenas estejam bastantes presentes no longa. O que não deixa de ser uma verdade. Porém, foi uma decisão para deixar o filme muito mais maduro, e ao que parece, José Padilha acertou no rumo que deu à sua produção.

Tropa de Elite 2 é um dos melhores filmes brasileiros à chegar aos cinemas nos últimos anos. Se vai repetir o sucesso do primeiro, se vai arrebentar na bilheteria, se vai angariar ainda mais fãs para o já adorado Nascimento (aplaudido pela platéia da pré-estréia em um certo momento, ao surrar a cara de um político), não dá para saber. Mas a verdade é que, se tudo isso acontecer, não será por sorte, e sim, por merecimento.


Wednesday, September 29, 2010

Um trio que apronta altas aventuras no transporte coletivo!

Olá pessoas. Faz tempo que não apareço por aqui para choramingar as mágoas do dia-a-dia. Bem, cá estou eu novamente para trazer à vocês mais uma crônica da vida real - o que, às vezes, é depressivo demais. Há algum tempo atrás, eu postei aqui a falta de noção de algumas pessoas dentro dos ônibus, esse transporte coletivo tão adorado pela raça humana, principalmente ao final de um longo dia de trabalho. Pois bem, e não é que hoje eu venho aqui contar à vocês a segunda parte dessa triste história, tão irritante quanto a primeira.

O horário era exatamente o mesmo. Final do dia, no trajeto de ida à mais uma noite de estudos na universidade (o que a gente não passa para ser alguém na vida, né não?). O ônibus em si não era o mesmo, mas a linha, sim. A única grande diferença é que, hoje, o coletivo não estava parecendo uma lata de sardinha gigante, abarotada de gente - o que pode ser considerado um milagre, já que ônibus e multidão é uma combinação tão comum quanto pasta e escova de dentes.

Mudou também o estilo musical ouvido. Saem os forrós e afins vindos do Norte / Nordeste do Brasil e entram Lady's Gaga, Paramore's e Rihanna's, diretamente do Hemisfério Norte do globo. Mas aí é que vem a novidade - e desculpe se, como bom jornalista, não evoquei aqui as regras do lead e coloquei a novidade lá no topo... queria criar um clima, sabe? Eles eram três. Assim, de relance, eu desconfio que eram Emos. Uma, eu tenho certeza, era uma garota. Os outros dois deveriam ser garotos - ou assim estava registrado na certidão de nascimento, mas vai saber...

Nem um pouco contentes em mostrar para TODOS do ônibus que eles tinham um celular potente e que reproduzia arquivos no formato MP3, colocando o som no último volume possível e fazendo berrinhos agudos modificados no computador ecoar pelo corredor, eles cantavam. Ah, e cantavam MUITO ALTO. E não, eles não cantavam bem. Só para exemplo de comparação, sabe aqueles candidatos toscos do "Ídolos", aqueles que só servem pra gente rir e para os jurados tirarem um sarrinho básico? Pois então, eles cantavam nesse nível ai.

Será que esse povo não tem noção que incomoda os outros não? Eu tenho uma amiga que tem uma frase muito boa, que irei reproduzir aqui: "A sua liberdade termina onde a minha começa". Claro, essa frase não se aplica à pessoas que fazem questão de colocar um som (gosto particular) numa altura em que todos são obrigados à ouvir. Me diz, para que inventaran o fone de ouvido? Sério, essa é a melhor invenção, melhor que a máquina de lavar, do que o MC Lanche Feliz ou do que o Sabre de Luz... E é mais barato do que esses também.

Gente, consciência é uma coisa barata! Cada um já nasce com a sua e não custa nada.

Monday, September 6, 2010

Você conhece o "Nosso Lar"?


"Nosso Lar", filme de Wagner de Assis e que estreou na última sexta-feira (dia 03), em mais de 400 salas de cinema do Brasil, querendo ou não, já marcou história no cinema nacional. Não por ter sido o segundo filme com maior arrecadação da história num final de semana de estréia, perdendo apenas para o também espírita "Chico Xavier", de Daniel Filho, mas por apostar alto e provar que o cinema brasileiro tem competência, sim, para fazer obras grandiosas. Na verdade, "Nosso Lar" tem muito de "Avatar", filme arrasa-quarteirões de James Cameron, lançado no ano passado.

Você deve estar achando, no mínimo, estranha essa comparação. Não, Jake Sully não era espírita. Muito menos André Luiz, personagem principal do longa nacional, se apaixona por uma Na'vi. Mas, ao assistir o trailer de ambos os filmes, e depois, os longas em si, uma coisa em comum surge: o primor técnico que ambas as produções possuem. "Avatar" foi o filme mais caro de Hollywood (foram 500 milhões de dólares), enquanto "Nosso Lar", o mais caro já produzido no Brasil: o longa é fruto de um investimento de R$ 20 milhões.

E para contar a história de André Luiz, médico que morre de forma repentina e acaba indo parar no Umbral (mais detalhes abaixo), antes de ser resgatado e ser levado à Colônia Nosso Lar, o diretor investiu em nomes de peso internacional, à começar pelo Diretor de Fotografia Ueli Steiger, o mesmo do filme catástrofe "Um Dia Depois de Amanhã", de 2004. Já as toneladas de efeitos especiais presentes no longa ficaram à cargo da empresa canadense Intelligent Creatures, responsável pelo mesmo trabalho em filmes como “Babel” e “Watchmen”. E esse é mesmo o chamariz do filme: o seu visual. Mais uma semelhança com "Avatar", ou não?

Outro lado
Quando "Avatar" estreou, em dezembro de 2009, duas vertentes surgiram: os que adoraram o filme de Neytiri e companhia, e, numa outra ponta totalmente oposta, os que odiaram. Esses usavam um argumento simples para denegrir o longa que ficou mais de 10 anos sendo produzido: o fraco roteiro. Novamente, a comparação à "Nosso Lar" se faz pertinente. Assim como o filme hollywoodiano, a produção espírita tropeça no roteiro e nos diálogos, partes de grande importância num filme. O roteiro de "Nosso Lar" é simples demais, didático demais. Não há conflitos, somente ensinamentos, uma lição de moral. O filme funciona muito mais como uma excursão à cidade na qual todos nós, de acordo com o filme em si, vamos morar. Olha ai, outro ponto de semelhança com "Avatar" e nosso passeio por Pandora.

No longa, como dito timidamente acima, o médico André Luiz morre de forma repentina. Quando "acorda", ele está no Umbral: uma planície envolta na escuridão, desértica, que funciona como um "purgatório", onde as almas vão após a morte, até se arrependerem de seu atos terrenos. Fome, frio, sede e dor, física e espiritual, são constantes. Almas se arrastam por poços de lama e piche, são chicoteadas e sofrem eternamente. André Luiz perde a conta de quanto tempo fica no Umbral, mas é salvo e levado para Nosso Lar, onde aprende sobre toda a doutrina espírita. E o espectador aprende junto.

Renato Prieto, desculpe o trocadilho, "encarna" André Luiz, o médico que, até então, não conhecia os ensinamentos espíritas. À ele, juntam-se no elenco Fernando Alves Pinto(Lísias), Rosanne Mulholland (Eloísa) e Werner Schünemann, que interpreta o guia espiritual de Chico Xavier, Emmanuel. E é aqui que reside outro defeito do filme: os diálogos e as atuações. Algumas conversas são desconexas, como numa cena onde André está sentado no gramado, sem nenhum motivo aparente, surge Tobias (vivido por Rodrigo dos Santos), e grita que "o mundo precisa de momentos felizes". Não é pela fala em si, mas sim o momento, nem um pouco oportuno, no qual ela foi dita - no caso, gritada. Algumas atuações, como de Rosanne, também não empolgam.

"Nosso Lar", no final das contas e jogando os prós e os contras numa balança, acaba se saindo um filme que funciona. Logo de cara, o espectador é jogado (quase literalmente) em cenas que sequer parecem estar saindo de um filme nacional. Essa é a grande vitória do longa: mostrar que o cinema nacional pode criar filmes grandiosos, se não em roteiros ou diálogos, com um visual pra lá de caprichado. Não que o enredo seja de todo errado: ele tem, perceptivelmente, a intenção de levar a doutrina espírita à grande massa. Nesse ponto, ele acerta, e na mosca. Enfim, é um filme que atrai tanto os curiosos, quanto espíritas. Ambos sairam do cinema com a sensação de ter assistido um filme correto, mas que poderia ser melhor.


Saturday, August 14, 2010

Especial: Cultura do Grafite


Vídeo idealizado e realizado por mim e pela Bruna Azevedo, no semestre passado. Gravamos durante a Virada Cultural de Indaiatuba para o Programa Espelho Urbano, da Puc Campinas.

Sunday, August 8, 2010

"A Origem" e a arte de invadir sonhos

De tempos em tempos, o cinema de ficção-científica nos brinda com alguns clássicos. E isso não é de hoje, muito pelo contrário, vem lá da década de 1970, com filmes como "Laranja Mecânica", do mestre Stanley Kubrick, e também a trilogia "Star Wars", do visionário George Lucas. Os anos 80 chegaram, e com eles, novas tecnologias que tornaram possível a aparição de novos filmes que marcaram uma geração, como "De Volta Para o Futuro", "O Exterminador do Futuro" e "Blade Runner". A década de 1990 chegou, mas parecia que novos clássicos não surgiriam. Até "Matrix" ser lançado e revolucionar o cinema.

Você deve estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com "A Origem" (Inception, no original), novo filme de Christopher Nolan, o mesmo diretor responsável pela renovação da série "Batman" no cinema, que estreou aqui no Brasil na última sexta-feira. Bem, o fato é que a primeira década dos anos 2000 não havia apresentado, ainda, um clássico da ficção-científica como os citados acima. Alguns cinéfilos podem torcer o nariz, afirmando que o ótimo "Avatar", de James Cameron, possa cobrir essa lacuna. A verdade é que não pode. "Avatar" tem suas glórias, mas ele peca justamente onde "A Origem" acerta: um roteiro bem construído, que faz com que o espectador mais atento saia da sala de cinema com dúzias de dúvidas e questionamentos a respeito do que ele acabou de assistir.

Não que a história do longa seja confusa. Não é. Ela é apenas complexa. E essa complexidade veio de um lugar comum à todos nós: os sonhos. Nolan (que além de dirigir também escreveu o roteiro do longa) traz à tona perguntas tão óbvias que, por esse mesmo motivo, jamais paramos para pensar em suas respostas. Como os sonhos começam? Porque nós simplesmente estamos, de repente, no meio deles? É exatamente nos sonhos onde Cobb (Leonardo DiCaprio) e Arthur (Joseph Gordon-Levitt) exercem seu trabalho de extração de informações confidenciais até Saito (Ken Watanabe) propor uma ação diferente: ao invés de roubar uma informação, inserir uma ideia na mente de um herdeiro de uma mega corporação, Robert Fischer Jr. (Cillian Murphy). O objetivo é fazer com que ele divida sua empresa após a morte do pai.

Mas realizar tal ação não será nem um pouco fácil. Para implantar com sucesso uma ideia na mente de uma pessoa, é necessário ir fundo no seu subconsciente. E ai Nolan nos apresentam às camadas, ou níveis, de sonhos. Cobb precisa entrar, pelo sonho, em outros sonhos da sua vítima e buscar a semente que vai germinar toda a ideia necessária para que ele tenha sucesso em sua missão: o relacionamento entre Fischer e seu pai moribundo. Pode parecer algo estranho, explicando em palavras, mas o filme brinca com esse elemento de maneira bastante simples.

Para cumprir sua missão, Cobb, um invasor nato, precisa de uma equipe que cubra todas as suas necessidades. Cada membro da equipe é responsável por cobrir uma área específica. Ariadne (Ellen Page), por exemplo, é a Arquiteta, a mente por trás de criar todo o universo físico do sonho. Ai entra uma outra grande cartada do filme, além do roteiro: o elenco e suas respectivas atuações. No sempre ótimo Leonardo DiCaprio vemos, novamente, um heroi atormentado pelo passado, algo que já presenciamos em "Ilha do Medo". Além dele, temos a fantástica Ellen Page, o espirituoso Tom Hardy e Joseph Gordon-Levitt, responsável por uma das cenas mais incríveis do filme: uma luta nos corredores de um Hotel, à lá gravidade zero.

Aproveitando a deixa dessa cena, podemos falar dos efeitos visuais. Sim, eles são incríveis. A começar pela cena onde Ariadne, a arquiteta, brinca com a física do sonho que ela criou e "dobra" a cidade inteira. Assistir à essa cena numa sala de cinema é uma experiência única, e fiquei tão boquiaberto aqui quanto vi a cena da queda do avião (sem cortes), em "Presságio". O mais legal em "A Origem" é que ele não foi feito para mostrar o quão evoluído os efeitos especiais estão. Os efeitos existem, são ótimos, mas não são a parte mais importante da história. É a junção perfeita entre um ótimo roteiro e efeitos na medida certa, sem exageros.

Os mais desavisados, no entanto, vão querer comparar o novo filme de Nolan com a saga "Matrix". Mas essa comparação se mostra equivocada logo nos primeiros minutos do longa. "A Origem", embora trabalhe com elementos parecidos com a série criada pelos irmãos Wachowski, como a questão de "sonhos coletivos", "universos paralelos" e tal, se mostra ainda mais profundo e complexo. Não se envergonhe, inclusive, se sair da sala de cinema com algumas dúvidas na cabeça a respeito do desfecho do filme: essa é mesmo a intenção do diretor. Essa complexidade pode até gerar no espectador a necessidade de assistir ao filme uma segunda vez. Ai mora uma grande sacada de Nolan: ao assistir ao longa novamente, o espectador começa a criar elos, junta a história de uma maneira que, assistindo na primeira vez, talvez deixe passar batido.

"A Origem", queira ou não, marca história no cinema de ficção-científica. Ao utilizar do mundo dos sonhos, tão comum no nosso dia-a-dia, e acrescentar à ele elementos fantásticos, Nolan serve mais um prato de alta gastronomia ao seu já valoroso banquete cinematográfico. Não há dúvidas de que o diretor é uma das principais mentes criativas em Hollywood atualmente e responsável por um dos filmes mais arrebatadores dos últimos anos. É um daqueles filmes que fazem o espectador ficar sem ar. É um daqueles que já nascem clássicos.