Monday, July 26, 2010

O cinema se rende aos encantos das favelas

Não é de hoje que a violência e a desigualdade social existentes nas favelas brasileiras são usadas como ponto de partida para roteiros cinematográficos. O ótimo "Cidade de Deus", do internacional Fernando Meirelles e o polêmico "Tropa de Elite", de José Padilha são exemplos dos mais clássicos dessa ânsia que o cinema nacional sente de levar às telas o cotidiano das milhares de favelas espalhadas pelo país. E esse ano, dentro em breve, ainda mais filmes - premiados - com essa mesma temática estão para estrear.

Cena de "5x Favela, Agora Por Nós Mesmos"

"5x Favela, Agora por Nós Mesmos", produzido por Cacá Diegues e Renata de Almeida Magalhães e que mostra, por meio de cinco pequenos filmes, o cotidiano e os desafios de moradores de diversas favelas do Rio de Janeiro - filmes estes dirigidos pelos próprios moradores, "Bróder", primeiro longa de Jefferson De e que mostra a vida de amigos pobres do Capão Redondo e traz um Caio Blat totalmente irreconhecível às telas e o chato e tedioso "400Contra1", de Caco Souza, que conta a criação do Comando Vermelho, organização que domina favelas cariocas até hoje, são exemplos dessa nova onda de filmes que tentam levar a favela para o asfalto.

Todos eles foram exibidos no III Festival Paulínia de Cinema, que aconteceu entre os dias 15 e 22 deste mês. "5x Favela" e "Bróder", inclusive, ganharam vários prêmios, tanto da crítica especializada, quanto pelo júri técnico e também pelo público (o primeiro levou sete troféus, inclusive de Melhor Filme, enquanto o segundo embolsou outros quatro). Isso mostra que, querendo ou não, para o bem ou para o mal, esse gênero de filmes dá certo no Brasil e tem um público cativo.

Entretanto, ao sair da sessão que exibiu "Bróder", durante o festival (filme muito bom por sinal, que vale a pena ser conferido, tanto pelo roteiro bem construído quanto pelas ótimas atuações), ouvi argumentos do tipo: "Porque filme brasileiro é sempre violento?". Ou então: "Nossa, filme nacional só mostra favela e palavrão!". Ou, ainda pior, coisas como: "Vixi, quanto 'preto' no filme!". Com afirmações assim, ouso dizer que, mesmo possuindo com um público "garantido", os diretores estão abusando.

Os filmes brasileiros estão muito iguais? Ao que parece, sim. A violência parece ser toda a precursora de tantas histórias assim? Também. Tudo isso remete, diretamente, à realidade do país. Aquela máxima de que "a vida imita a arte" parece estar acontecendo ao contrário no cinema nacional: é a arte que se inspira na realidade do dia-a-dia das grandes cidades para alcançar o público.

Sunday, July 18, 2010

Tarantino na sua mais pura essência!

"Milhas à percorrer antes de dormir..."


Foi uma estreia tímida. Coisa que o diretor Quentim Tarantino com certeza não merece. Com tantas salas exibindo "Eclipse", "Shrek Para Sempre", "Toy Story 3"e "Encontro Explosivo", o diretor de "Kill Bill" e "Bastardos Inglórios" teve de se contentar com uma estreia em poucas salas de cinema em todo o Brasil de seu mais "recente" longa. É, assim mesmo, entre aspas, já que o filme é novo só por aqui: nos Estados Unidos, o longa em questão foi lançado em 2007. O porquê dessa lacuna de três anos entre o lançamento norte-americano e o brasileiro é um mistério, mas o importante é que, finalmente, o longa pode ser conferido nos cinemas tupiniquins e traz o mais puro espírito "tarantinesco".

"À Prova de Morte", que estreou por aqui na última sexta-feira, foi dirigido antes de "Bastardos Inglórios" e tem tudo - e mais um pouco - que os fãs do diretor esperam: belas mulheres, atuações marcantes, diálogos cômicos e, claro, mortes e sangue. Esses dois em quantidades bem generosas. Quentim Tarantino quis, de verdade, dar a sua cara para o filme. Isso fica claro logo nos créditos. Direção, roteiro, produção, direção de fotografia... Tudo isso foi reponsabilidade do próprio, que até faz uma pontinha - como sempre gosta de fazer.

A história é a mais esdrúxula já saída da cabeça do diretor (o que é uma coisa boa): Stuntman Mike, interpretado por Kurt Russel, é um dublê de filmes de ação que tem um prazer, digamos, bem diferenciado: dirigir sua caranga "à prova de morte" em alta velocidade pelas ruas de Austin, no Texas. Se uma mulher estiver no banco do carona, melhor ainda. E se, ao final da corrida, ela estiver morta, ai sim Mike terá cumprido sua missão. Ao conhecer a DJ Jungle Julia (Sydney Tamiia Poitier) e seu grupo de amigas, Mike bola um plano maquiavélico. Sim, você adivinhou. Matar todas. E embora essa afirmação possa parecer estranha dentro desse contexto, esse é o filme mais feminista do diretor.

É com uma premissa louca como essa que o filme se desenrola, mostrando, só para variar, ótimas atuações. À começar pelo dono do carro que dá título ao longa. Kurt Russel está impecável na pele do assassino Stuntman Mike. O jeito malandro - e assustador - do personagem caiu como uma luva para o ator. Outras atrizes também dão conta do recado, como Rosário Dawson, a já citada Sydney Tamiia Poitier e a super-sexy Vanessa Ferlito. Tarantino deixa sua marca também em outros elementos do filme. Cortes secos de câmera, enquadramentos que fogem do convencional, um ar de filme antigo, da década de 1970 (embora se passe nos dias de hoje) e "erros" propositais durante todo o longa, como a perda da cor, deixando o filme em preto em branco, fazem do filme uma experiência única, que pode, inclusive, não agradar à todos (e fãs, sintam-se incluídos).

Tanta esquisitice pode ser explicada. "À Prova de Morte" foi concebido como parte do projeto "Grindhouse", que, buscando resgatar as sessões duplas concebidas na década de 30 como resposta à Depressão, trazia também o fraco "Planeta Terror", de Robert Rodriguez, e vários trailers falsos dirigidos por amigos da dupla. Inicialmente com uma duração de apenas 87 minutos, o longa chegou ao Brasil um pouco diferente: com 17 minutos à mais e, claro, sem fazer parte do projeto duplo original.

E aqui chegamos à parte ruim do filme. Ele se alonga demais em cenas desnecessárias e diálogos intermináveis que de importante não têm nada. O filme demora a engrenar, e quando engrena, tem uma sequência rápida de clímax, o que faz que todo o tom caia novamente, levando o filme ao mesmo desenrolar fraco do começo. Uma dessas cenas, por exemplo, ocorre na segunda metade do filme, quando Mike persegue um grupo de garotas: a sequência é tão longa que chega a cansar.

Mesmo com referências ao seus demais filmes - e os fãs vão perceber os detalhes de "Kill Bill" e "Pulp Fiction", por exemplo -, "À Prova de Morte" não supera os longas anteriores do diretor. Não é demais, inclusive, afirmar que se trata do seu filme mais fraco. O que não quer dizer que o filme seja de todo ruim: ele possui cenas e diálogos incríveis, de tirar o fôlego, e as cenas de ação fazem o filme valer a pena. Recomendado para aqueles que gostam de filmes que fogem - totalmente - do padrão!


Saturday, July 17, 2010

Para o infinito e além, pela última vez!


Pipoca espalhada pelo chão. Sala de cinema lotada por crianças, pais, mães, avós, adolescentes e crianças de colo - que insistiam em chorar de maneira bem aguda, causando um certo desconforto no restante dos espectadores. Foi numa sessão nem um pouco convidativa que eu pude assistir ao mais recente trabalho da Pixar: "Toy Story 3". E já aproveito para confessar aqui, logo no começo do texto: nunca fui fã de Woody, Buzz e compania limitada. Tanto que assisti, apenas, ao primeiro longa da série. O segundo ainda está nos meus planos. Mas a Pixar se preocupou em tantos detalhes que até mesmo pessoas que, como eu, não conhecem à fundo a franquia vão se divertir - e se emocionar.

"Toy Story 3" fecha, em grande estilo, permita-me já acrescentar, a trilogia de filmes dos brinquedos vivos. Ele se passa muitos anos após os anteriores e mostra Andy - depois de uma sequência inicial muito divertida e empolgante, diga-se de passagem, já crescido e prestes à mudar-se para a Universidade. Pois é, seu mundo está mudando, e nele, parece não haver espaço para os antigos amigos de plástico, que a todo momento tentam chamar sua atenção - o que pode parecer estranho, já que a atitude vem de um bando de bonecos. O fato é que Andy têm olhos apenas para Woody, o "sortudo" escolhido à ir para a caixa das coisas escolhidas para a "Universidade", enquanto o restante terá como destino o "Sotão".

Mas, vamos combinar, o destino desses brinquedos não é um dos mais afortunados. Depois de uma confusão, o xerife Woody, o astronauta Buzz, a vaqueira Jessie, o tiranossauro Rex, o cachorro-mola Slinky, Hamm (o porquinho), os Aliens, os engraçadíssimos Sr. e Sra. Cabeça e Batata e até mesmo a Barbie (!) acabam indo parar na creche Sunnyside, lar de centenas de brinquedos doados pelos seus antigos donos. Lá, eles conhecem o fofinho, adorável, mas não tão bonzinho Lotso, um ursão-felpudo-cor-de-rosa. Mas logo eles descobrem que o lugar não é tão maravilhoso quanto Lotso afirma.

Com "Toy Story 3", o modo Pixar de se fazer cinema fica quase tangível: aproveitar-se da animação para tratar de assuntos sérios - a força da amizade, no caso deste em especial - de maneira muito particular . Na verdade, enquanto muitas pessoas apostam que filmes de animação são totalmente direcionados ao público infantil, o estúdio mostra, com muita competência, que esses filmes podem, sim, ser feitos para os adultos também. E não é de hoje. "Procurando Nemo", "Ratattouille", "Wall-E" e "Up - Altas Aventuras" são longas que, embora as crianças adorem, foram feitos para um público mais crescido.

Incrível também é a beleza, cada vez maior e melhor, das cenas presentes nos filmes da Pixar. Juro que depois de "Wall-E", com suas cenas lindíssimas e praticamente mudas, eu não iria me surpreender com mais nada. Mas "Toy Story 3" me presenteou com sequencias belíssimas. Uma das mais bonitas, por exemplo, acontece quando a história de Lotso é contada, revelando então partes importantes do enredo. A tecnologia usada e a beleza da fotografia impressionam. A sutileza com a qual o filme se desenrola, mostrando um ótimo roteiro e muito, mas muito bem elaborado, é de fazer inveja.

Isso tudo fora os incríveis personagens, desde os já famosos na série, até os mais recentes. Entre os destaques, claro, estão Lotso, o "manda-chuva" dos brinquedos na creche Sunnyside, o Bebezão, uma boneca dessas que imitam um bebê de verdade (ambos abandonados pela mesma dona) e, por incrível que pareça, Ken, o eterno namoradinho da Barbie. De longe um dos personagens que roubam a cena no novo filme, o "pedaço de plástico metrossexual" é garantia de boas risadas em praticamente todas as cenas da animação. E se o assunto é diversão, poucos personagens são tão engraçados quanto o casal Sr. e Sra. Cabeça de Batata. Desbocados, estressados e do tipo que não levam desaforo para casa, a união dos dois garante altas gargalhadas.

Por todos esses motivos, se a sessão estava barulhenta antes do filme começar - com a criançada falando alto e bebês chorando, quando o filme chega à seu clímax, nenhum sussurro era ouvido por toda a sala. Todo mundo prestando atenção nas cenas mais emocionantes da série e deixando escapar algumas lágrimas ao final do longa. E, novamente, palmas para a Pixar por fazer um filme ser engraçado e emocionante ao mesmo tempo, sem cair em clichês e situações extremamente forçadas.

Com "Toy Story 3", a Pixar dá uma bela aula de como fazer um ótimo filme de animação para toda a família. As crianças vão gostar das cenas de comédia, os jovens vão aprender a importância da amizade e os mais experientes, que já deixaram de brincar com seus brinquedos há tanto tempo, vão sentir saudades das tardes que passaram com seus astronautas, dinossauros ou telefones de plástico. É aquela velha história: nostalgia, quando em doses homeopáticas, faz bem à saúde. Assisir "Toy Story 3", também.


Monday, July 12, 2010

O gol laranja que não veio


Uma cor predominava no salão tomado pelos torcedores: a laranja. Ela estava presente nas camisetas, nos chapéus e até mesmo nas cortinas que decorravam o local. Centenas de olhares, das mais variadas colorações, focados no telão. Sentidos entorpecidos pela adrenalina da partida e pelo som grave das vuvuzelas. Mãos à cabeça na chance desperdiçada pelo holandês Robben. "Uuuhhhhhh!", exclamava, em uníssono, a torcida mais holandesa do Brasil. Levar às mãos a cabeça foi mesmo o ritual mais comum entre os torcedores da Laranja Mecânica, na final da Copa do Mundo, contra a Fúria espanhola: as defesas de Stekelenburg, os gols perdidos de Robben e os chutes à gol de Sneijder eram sempre acompanhados de gritos de euforia ou decepção. Mas as mãos, sempre, iam à cabeça.

Se às 15h, meia hora antes do jogo começar, o salão ainda não estava cheio, o mesmo não podia ser dito às 15:30h, horário de Brasília, quando o jogo mais importante da competição começou. Era impossível andar sem esbarrar em algum holandês latino, devidamente trajado com as cores de sua seleção. E lá estava o laranja de novo. Estavam também câmeras. Repórteres. Microfones. Globo, Band, Gazeta, SBT. Todos tiveram a mesma ideia de pauta: cobrir o jogo da Holanda contra a Espanha na maior colônia holandesa no país mais tropical do mundo: Holambra, no interior do estado de São Paulo, a capital nacional das flores.

Por mais de 100 minutos, todos se esqueceram das flores. A preocupação era mesmo com a vitória da seleção holandesa. David Villa ataca, Stekelenburg defende! "Uuuhhhhhh!", grita a torcida. Robben parte pelo meio, após uma bela enfiada, mas se perde e Casillas defende. "Uuuuhhhh!", repetem centenas de pessoas, seguidas de vuvuzelas nervosas e cornetas mais tímidas. Todos os presentes, menos um pequeno grupo que preferiu vestir vermelho e arriscou torcer pela Fúria em meio aos holandeses, esperavam por um gol que prometia sair a qualquer momento. Mas não saia.

Quando a primeira - e única - bola estufou na rede, já nos minutos finais da prorrogação, quem gritou de alegria não foi a multidão de laranja, e sim, o pequeno grupo espanhol. Decepção. A barulhenta torcida de olhos e cabelos claros silenciou, e foi a vez da reduzida torcida espanhola explodir com suas bandeiras e vuvuzelas. O algoz holandês tem nome: Iniesta, que garantiu o primeiro título mundial para a Espanha e fez a Holanda amargar, pela terceira vez na história das Copas, o vice-campeonato. A festa programada não aconteceu. Cabisbaixos, torcedores deixaram o salão com a sensação de que faltou alguma coisa. A vitória, por exemplo.

Saturday, July 10, 2010

"Lua Nova" e "Eclipse" - Vampirismo deformado

Às vezes não basta ser amigo. Tem que participar, nos bons e maus momentos. Enfim. Ao receber o e-mail de uma amiga convidando para assistir "Lua Nova", o segundo filme da Saga Crepúsculo na sua casa - para, depois, assistir "Eclipse", a sequência do longa, no cinema, pensei como cinéfilo assíduo e mesmo já sabendo da, bem... digamos... "coisa" que me esperava, resolvi aceitar o convite. E ai vai uma dica, caro leitor: se alguém te convidar para assistir "Lua Nova", corra. Mas corra como se sua vida dependesse disso, como o diabo foge da cruz, como o Cascão corre da água. Depois não diga que eu não avisei!

O clã Cullen e a humana causadora de todos os problemas, Bella


Sim, porque existem coisas que podem destruir uma amizade, se ela não for forte o suficiente. "Lua Nova" é uma delas. E não pense que "Eclipse", embora 0,000001% melhor do que o filme anterior, é diferente. Ambos são PÉSSIMOS filmes. Péssimos porque não existe uma palavra pior (ou melhor) para definir o quanto essa "saga" é deprimente e vergonhosa para qualquer pessoa com mais de 15 anos de idade e bem resolvida emocionalmente. Tudo é muito ruim, tudo. Desde o visual, o roteiro e, claro, as atuações... Ah, as atuações...

Para quem não conhece muito bem a história do trio Isabella (Bella) Swan, a humana egocêntrica, Edward Cullen, o vampiro vegetariano e Jacob Black, o lobisomem depilado, ela começa quando Bella se apaixona por Edward. Então transcorrem-se sequências intermináveis de um romantismo barato, até que Bella descobre que seu melhor amigo, o tal do Jacob, também não é nem um pouco normal, afinal, ele é um lobisomem e inimigo natural dos vampiros.

Em "Lua Nova", Edward acha melhor se afastar de Bella, para que ela se esqueca dele e tenha uma vida normal. Não dá certo. A garota cai numa depressão lascada, quase tangível, o que acaba transformando o filme num verdadeiro martírio. É, meu amigo, é necessário muita força de vontade para ver esse filme até o final. Xingamentos são permitidos - e inevitáveis. Já em "Eclipse", Bella se vê em meio à uma batalha entre vampiros que querem protegê-la (os Cullen) e os que querem devorá-la. Infelizmente, ela sai ilesa da guerra, o que dá brecha para mais um filme... "Amanhecer", que estreia ano que vem.

É com um roteiro capenga desses que David Slade, diretor de "Eclipse" (e também do ótimo "30 dias de Noite"), tem que trabalhar. Mas coitado, é impossível fazer algo que preste, por mais que o diretor tenha se esforçado - e ele tentou, mesmo. O filme poderia muito bem ter, pelo menos, 30 minutos a menos de duração. Ele é arrastado, cansativo, com diálogos clichês, cheios de um romantismo tão brega que faz com que o espectador sinta vontade de sair no meio do filme e vomitar. Ou, no mínimo, dar muitas gargalhadas. Escolhi essa opção. E todas essas "qualidades" do filme também podem ser agregadas à "Lua Nova", do diretor Chris Weitz (o mesmo do horrível "A Bússola de Ouro"), porém, numa dose muito maior, já que o filme é uma das coisas mais depressivas que eu já vi no cinema.

Se os diálogos são, hum... lamentáveis, as atuações conseguem se sair ainda pior. Podemos dizer que a produção escolheu a dedo Kristen Stewart (Bella), Robert Pattinson (Edward) e Taylor Lautner (Jacob): os três são horríveis e ficam apagados por qualquer personagem secundário que surge, como a vampira Jane, vivida pela ótima Dakota Fannigan. Para se ter uma comparação bem precisa, se os três atuassem em "Malhação", seriam muito pior do que o Fiuk, por exemplo.

É certo que a raça humana tem gostos estranhos. É certo também que o brasileiro gosta de muita porcaria (Hein? Alguém falou Restart? Ou então Bonde do Tigrão? Não, não, foi Calcinha Preta!), mas é simplesmente impossível conceder a ideia de "Eclipse", um dos piores filmes já feitos pela raça humana - seguido de seus antecessores, possa atrair tanto público às salas de cinema e se tornar a maior bilheteria numa estreia dos últimos 20 anos. Sério, existe alguma coisa muito errada com os adolescentes de hoje em dia. Assistir à esse vampirismo deformado deveria ser probido por lei!

Monday, July 5, 2010

Retratos da demência humana


Alguns japoneses viram apenas um imenso clarão vindo do céu, após o alarme anti-aéreo parar de soar por toda a cidade de Hiroshima. Outros sequer viram algo nos céus: apenas sentiram seus corpos saírem do chão e serem arremessado à dezenas de metros de onde estavam devido ao impacto da bomba. Porém, todos os que sobreviveram ao dia 06 de Agosto de 1945, data em que o governo americano lançou sobre a cidade japonesa sua arma mais poderosa até então criada – a Bomba Atômica, tiveram de conviver com a perda de familiares e seus lares. Ainda mais. Tiveram de aprender a coexistir com pessoas deformadas, queimadas e mutiladas.

"Hiroshima", um dos marcos do novo jornalismo - embora esse termo não seja muito adequado, é uma das reportagens mais importantes do Século XX. Como o nome da publicação já deixa meio claro, o livro fala sobre o ataque americano à Hiroshima, durante a Segunda Guerra Mundial, sobre a bomba atômica que matou mais de 100 mil pessoas diretamente e outras centenas indiretamente, devido à radiontoxicação deixada pela bomba e seus efeitos sobre os sobreviventes japoneses- ou "hibakushas", como preferem ser chamados.

John Hersey, o autor, não utiliza tantos elementos literários em seu texto, mas ele descreve as cenas e as crueldades causadas pela bomba de maneira tão clara que é como se o leitor caminhasse pelos escombros deixados pela explosão. Coisa que nem mesmo ele fez. Ele viajou à Hiroshima um ano depois do ataque, para realizar uma reportagem especial para a revista The New Yorker. Entrevistou seis sobreviventes, e mostrou os efeitos do ataque a partir do ponto de vista deles: donas de casa, médicos, pastores, padres... Nada de números, coisa que jornalista adora. Hersey busca cativar, emocionar o leitor, coisa que os números não são capazes de fazer.

Ele retorna à Hiroshima 40 anos depois de fazer a reportagem - publicada em uma edição especial da revista que vendeu mais de 30 mil unidades, para finalizar sua matéria. Reencontra alguns hibakushas e depara-se com uma nova Hiroshima, mais tecnológica e forte economicamente. O livro é perfeito para que o homem perceba o que a sua demência é capaz de criar, realizar e destruir. Ele nos leva ao momento exato em que a bomba atinge seu alvo e mostra como os habitantes de Hiroshima lidaram com a explosão, com a perda de familiares, de seus lares, suas vidas. Essencial para quem quiser entender o horror que uma guerra pode causar.

5/5