Monday, July 12, 2010

O gol laranja que não veio


Uma cor predominava no salão tomado pelos torcedores: a laranja. Ela estava presente nas camisetas, nos chapéus e até mesmo nas cortinas que decorravam o local. Centenas de olhares, das mais variadas colorações, focados no telão. Sentidos entorpecidos pela adrenalina da partida e pelo som grave das vuvuzelas. Mãos à cabeça na chance desperdiçada pelo holandês Robben. "Uuuhhhhhh!", exclamava, em uníssono, a torcida mais holandesa do Brasil. Levar às mãos a cabeça foi mesmo o ritual mais comum entre os torcedores da Laranja Mecânica, na final da Copa do Mundo, contra a Fúria espanhola: as defesas de Stekelenburg, os gols perdidos de Robben e os chutes à gol de Sneijder eram sempre acompanhados de gritos de euforia ou decepção. Mas as mãos, sempre, iam à cabeça.

Se às 15h, meia hora antes do jogo começar, o salão ainda não estava cheio, o mesmo não podia ser dito às 15:30h, horário de Brasília, quando o jogo mais importante da competição começou. Era impossível andar sem esbarrar em algum holandês latino, devidamente trajado com as cores de sua seleção. E lá estava o laranja de novo. Estavam também câmeras. Repórteres. Microfones. Globo, Band, Gazeta, SBT. Todos tiveram a mesma ideia de pauta: cobrir o jogo da Holanda contra a Espanha na maior colônia holandesa no país mais tropical do mundo: Holambra, no interior do estado de São Paulo, a capital nacional das flores.

Por mais de 100 minutos, todos se esqueceram das flores. A preocupação era mesmo com a vitória da seleção holandesa. David Villa ataca, Stekelenburg defende! "Uuuhhhhhh!", grita a torcida. Robben parte pelo meio, após uma bela enfiada, mas se perde e Casillas defende. "Uuuuhhhh!", repetem centenas de pessoas, seguidas de vuvuzelas nervosas e cornetas mais tímidas. Todos os presentes, menos um pequeno grupo que preferiu vestir vermelho e arriscou torcer pela Fúria em meio aos holandeses, esperavam por um gol que prometia sair a qualquer momento. Mas não saia.

Quando a primeira - e única - bola estufou na rede, já nos minutos finais da prorrogação, quem gritou de alegria não foi a multidão de laranja, e sim, o pequeno grupo espanhol. Decepção. A barulhenta torcida de olhos e cabelos claros silenciou, e foi a vez da reduzida torcida espanhola explodir com suas bandeiras e vuvuzelas. O algoz holandês tem nome: Iniesta, que garantiu o primeiro título mundial para a Espanha e fez a Holanda amargar, pela terceira vez na história das Copas, o vice-campeonato. A festa programada não aconteceu. Cabisbaixos, torcedores deixaram o salão com a sensação de que faltou alguma coisa. A vitória, por exemplo.

No comments:

Post a Comment