Monday, July 5, 2010

Retratos da demência humana


Alguns japoneses viram apenas um imenso clarão vindo do céu, após o alarme anti-aéreo parar de soar por toda a cidade de Hiroshima. Outros sequer viram algo nos céus: apenas sentiram seus corpos saírem do chão e serem arremessado à dezenas de metros de onde estavam devido ao impacto da bomba. Porém, todos os que sobreviveram ao dia 06 de Agosto de 1945, data em que o governo americano lançou sobre a cidade japonesa sua arma mais poderosa até então criada – a Bomba Atômica, tiveram de conviver com a perda de familiares e seus lares. Ainda mais. Tiveram de aprender a coexistir com pessoas deformadas, queimadas e mutiladas.

"Hiroshima", um dos marcos do novo jornalismo - embora esse termo não seja muito adequado, é uma das reportagens mais importantes do Século XX. Como o nome da publicação já deixa meio claro, o livro fala sobre o ataque americano à Hiroshima, durante a Segunda Guerra Mundial, sobre a bomba atômica que matou mais de 100 mil pessoas diretamente e outras centenas indiretamente, devido à radiontoxicação deixada pela bomba e seus efeitos sobre os sobreviventes japoneses- ou "hibakushas", como preferem ser chamados.

John Hersey, o autor, não utiliza tantos elementos literários em seu texto, mas ele descreve as cenas e as crueldades causadas pela bomba de maneira tão clara que é como se o leitor caminhasse pelos escombros deixados pela explosão. Coisa que nem mesmo ele fez. Ele viajou à Hiroshima um ano depois do ataque, para realizar uma reportagem especial para a revista The New Yorker. Entrevistou seis sobreviventes, e mostrou os efeitos do ataque a partir do ponto de vista deles: donas de casa, médicos, pastores, padres... Nada de números, coisa que jornalista adora. Hersey busca cativar, emocionar o leitor, coisa que os números não são capazes de fazer.

Ele retorna à Hiroshima 40 anos depois de fazer a reportagem - publicada em uma edição especial da revista que vendeu mais de 30 mil unidades, para finalizar sua matéria. Reencontra alguns hibakushas e depara-se com uma nova Hiroshima, mais tecnológica e forte economicamente. O livro é perfeito para que o homem perceba o que a sua demência é capaz de criar, realizar e destruir. Ele nos leva ao momento exato em que a bomba atinge seu alvo e mostra como os habitantes de Hiroshima lidaram com a explosão, com a perda de familiares, de seus lares, suas vidas. Essencial para quem quiser entender o horror que uma guerra pode causar.

5/5

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