Sunday, February 20, 2011

“127 Horas”: James Franco e Danny Boyle levam solidão e esperança às telas

“Você é demente!”. É com essa frase que a dupla de amigas Kristi (Kate Mara) e Megan (Amber Tamblyn), definem Aron Ralston (James Franco), um excêntrico engenheiro que gosta mesmo é de se aventurar pelo deserto e pelas fendas dos canyons de Utah, nos Estados Unidos. Como o próprio avisa, aquele é seu segundo lar. Mas tanta familiaridade com a areia e todo o ambiente hostil do deserto não evitou que o aventureiro topasse – literalmente – com uma pedra no seu caminho.

“127 Horas”, do diretor Danny Boyle (Quem Quer Ser Um Milionário?, 2008), é uma história real de superação e agonia de Aron, que fica preso numa fenda por causa de uma pedra que esmaga seu braço, no meio do deserto, com algumas barras de cereal, menos de 500 ml de água, uma corda e alguns outros poucos equipamentos. Aron torna-se vítima de seu próprio egoísmo, já que ninguém sabia onde o aventureiro estava. A nova produção de Boyle foi reconhecida peça academia, e concorre à seis Oscar (melhor filme, melhor ator, melhor roteiro adaptado, melhor trilha sonora, melhor canção original, melhor edição).

Não há como falar de “127 Horas” sem citar “Quem Quer Ser Um Milionário?”, filme que ganhou oito Oscar em 2009. Alguns detalhes e efeitos usados por Boyle na história de Jamal, podem ser revistos no longa com James Franco, mesmo que de maneira mais sutil e menos freqüentes. Além disso, o diretor resolveu de maneira muito singular uma questão primordial da produção: a sensação de solidão.

Logo no início, somos bombardeados com uma tela dividida em três, com imagens de uma arquibancada lotada, passageiros saindo do trem e a vida agitada de Aron, tudo para mostrar a correria e a agilidade da cidade grande. Mas em seguida, essas imagens dão lugar à cenas de uma auto-estrada longa e vazia e vales e montanhas no deserto. Tudo para mostrar que Aron está prestes à presenciar a solidão mais profunda.

O filme também tem outra vitória no quesito “sensações”. Além da solidão, a produção passa as vontades e agonias do aventureiro para o próprio espectador. Numa das cenas, por exemplo, em que Aron está com sede, imagens de refrigerantes estupidamente gelados, cervejas, sucos transbordando, piscinas azuis e tudo que remete à água e à sede surgem na tela. Aron lambe os lábios secos, e muita gente n cinema faz o mesmo.

A ótima trilha sonora acompanha esse ritmo. Enquanto as imagens iniciais rolam na tela grande, “Never Hear Surf Music Again”, do Free Blood, invade os ouvidos dos espectadores. Porém, é nos momentos mais dramáticos que a triilha criada por A. R. Rahman mostra sua força, como quando Aron vê-se preso e sem saída. Inclusive, a ótima “If I Rise”, da Dido, executada ao final do longa, concorre ao Oscar.

Além da ótima trilha sonora, impecável mesmo é a fotografia de Enrique Chediak e Anthony Dod Mantle. E aqui vai uma injustiça do Oscar 2011: “127 Horas” tinha que estar concorrendo nessa categoria, pois tem um visual deslumbrante! As sequencias de Aron no meio do deserto, com sua bicicleta, são ótimas, assim como as que mostram seus devaneios verbais diante a filmadora que ele carrega consigo.

E se tudo isso é muito bom (trilha, fotografia, sensações, roteiro), quem poderia ter sido escolhido para viver Aron de modo impecável? Queira você ou não, mas James Franco faz isso de maneira colossal. De longe, a sua melhor atuação de todos os tempos. Ele faz rir quando tem de fazer, transmite emoção e angustia quando necessário, faz caras e bocas e mostra trejeitos de uma pessoa que nunca perde as esperanças. Concorre ao Oscar como melhor ator, e pode levar, merecidamente.

Enfim, “127 Horas” pode não ser um dos favoritos em algumas estatuetas do Oscar 2011, mas é um filme de qualidade. Danny Boyle fez um ótimo trabalho ao adaptar o livro escrito pelo próprio Aron Ralston às telas. É um filme denso, com passagens fortes e uma lição de vida para, ao menos, não esquecer. Muito mais do que isso, é um filme sobre a esperança. Mesmo que, para mantê-la, sejam necessários grandes sacrifícios.



Monday, February 7, 2011

O belo, dramático e psicótico ballet do “Cisne Negro”

Muito antes de “Cisne Negro”, o novo filme de Darren Aronofsky (de “O Lutador”, de 2008), que estreou nesta sexta-feira, dia 04, ser indicado à cinco estatuetas no Oscar 2011 (melhor filme, melhor diretor, melhor atriz, melhor fotografia e melhor edição), ele já era uma das estréias que eu mais esperava para esse ano, que promete ser ótimo para os cinéfilos de plantão. A junção de um ótimo diretor com um elenco de primeira não tinha como resultar em um filme meia boca. E eu não me enganei: em todos os seus 103 minutos de duração, “Cisne Negro” não decepciona, apresentando atuações incríveis, um roteiro impecável e uma fotografia e trilha estupendas.



A trama, basicamente um drama, tem ramificações que a levam ao terror e ao suspense psicológico, com braços que chegam um tanto aos musicais. Nina (a indescritível Natalie Portman), é a escolhida por Thomas (Vincent Cassel), dono de uma companhia de ballet, para substituir Beth (Wynona Rider), uma experiente dançarina, na nova montagem de “A Lagoa dos Cisnes”. Na peça, Nina precisa interpretar tanto o Cisne Branco, cheio de graça e inocência, quanto o Cisne Negro, irmão gêmeo cheio de inveja e sensualidade.

Nina é perfeita para o papel de Cisne Branco. Ela própria é uma jovem meiga e esforçada, e transcende essas características em sua dança. Mas Thomas duvida de seu potencial quanto ao Cisne Negro, um personagem forte, sexy, cheio de inveja. Eis que surge Lily (Mila Kunis), uma nova dançarina que parece ser o oposto perfeito de Nina e quer, também, ser a protagonista da peça. A partir daí, Nina passa a buscar “ser perfeita”, tanto para um papel, quanto para o outro. Porém, a pressão da estréia e do papel começam a fazer com que Nina se sinta atormentada e perseguida. Assim, dentro da cabeça da dançarina, as coisas parecem não ser exatamente como são.

É com esse enredo que Natalie Portman mostra uma atuação impecável. E com essa mesma atuação é que a atriz venceu o Globo de Ouro e é uma das preferidas para o Oscar deste ano. Não é para menos: ao mesmo tempo em que se mostra uma garota sensível em boa parte do filme, ela também mostra um tom dramático bastante forte quando lhe é necessário. As boas atuações continuam com Vincent Cassel e Mila Kunis, além da sempre incrível Wynona Ryder. Porém, não há como negar que esse é “o” filme de Natalie Portman: ela nunca esteve tão bem.





“Cisne Negro” abusa dos contrapontos. Mostra a batalha eterna do meigo, do suave, na pele de Nina e nas penas do Cisne Branco, contra a insolência, a sensualidade com Lily e o extravagante Cisne Negro. Evidencia a beleza e a sutileza dos detalhes, dos mínimos detalhes, ao mesmo tempo em que mostra a força e o choque de momentos tensos. E o longa é uma sucessão de momentos belos, tensos, dramáticos e assustadores que mostram, novamente, que Darren usou de forma magistral esses contrapontos.

O diretor também se utiliza, em várias sequências, de câmeras de mão. E são elas as responsáveis pelas cenas mais belas de todo o filme, como por exemplo, as danças nos ensaios de Nina. Porém, a (bela) fotografia do filme não se resume à esses momentos. Não há uma só parte do longa em que a câmera esteja em lugar errado: tudo foi meticulosamente encaixado. As cenas de dança são, de longe, as mais belas – destaque para a cena inicial e a final. A trilha sonora, por sua vez, acompanha os clássicos da música clássica,e, mais uma vez utilizando-se do contraponto, o que poderia ser utilizado para acalmar, deixar a produção mais leve, é usado para criar um ambiente ainda mais tenso e nervoso.

É por essas e outras que “Cisne Negro” não surge como um azarão no Oscar 2011: não duvide da qualidade desse drama com boas pitadas de um suspense psicótico. Ele tem tudo o que um grande filme precisa para vencer a premiação. Também não duvide das chances de Natalie Portman levar o prêmio. Ela já mostrou e evidencia nessa produção que é muito mais do que um rosto bonito nos cinemas: mesmo você, que na entende nada de ballet, vai notar a transformação de Nina durante o filme. Eu garanto.