Sunday, July 18, 2010

Tarantino na sua mais pura essência!

"Milhas à percorrer antes de dormir..."


Foi uma estreia tímida. Coisa que o diretor Quentim Tarantino com certeza não merece. Com tantas salas exibindo "Eclipse", "Shrek Para Sempre", "Toy Story 3"e "Encontro Explosivo", o diretor de "Kill Bill" e "Bastardos Inglórios" teve de se contentar com uma estreia em poucas salas de cinema em todo o Brasil de seu mais "recente" longa. É, assim mesmo, entre aspas, já que o filme é novo só por aqui: nos Estados Unidos, o longa em questão foi lançado em 2007. O porquê dessa lacuna de três anos entre o lançamento norte-americano e o brasileiro é um mistério, mas o importante é que, finalmente, o longa pode ser conferido nos cinemas tupiniquins e traz o mais puro espírito "tarantinesco".

"À Prova de Morte", que estreou por aqui na última sexta-feira, foi dirigido antes de "Bastardos Inglórios" e tem tudo - e mais um pouco - que os fãs do diretor esperam: belas mulheres, atuações marcantes, diálogos cômicos e, claro, mortes e sangue. Esses dois em quantidades bem generosas. Quentim Tarantino quis, de verdade, dar a sua cara para o filme. Isso fica claro logo nos créditos. Direção, roteiro, produção, direção de fotografia... Tudo isso foi reponsabilidade do próprio, que até faz uma pontinha - como sempre gosta de fazer.

A história é a mais esdrúxula já saída da cabeça do diretor (o que é uma coisa boa): Stuntman Mike, interpretado por Kurt Russel, é um dublê de filmes de ação que tem um prazer, digamos, bem diferenciado: dirigir sua caranga "à prova de morte" em alta velocidade pelas ruas de Austin, no Texas. Se uma mulher estiver no banco do carona, melhor ainda. E se, ao final da corrida, ela estiver morta, ai sim Mike terá cumprido sua missão. Ao conhecer a DJ Jungle Julia (Sydney Tamiia Poitier) e seu grupo de amigas, Mike bola um plano maquiavélico. Sim, você adivinhou. Matar todas. E embora essa afirmação possa parecer estranha dentro desse contexto, esse é o filme mais feminista do diretor.

É com uma premissa louca como essa que o filme se desenrola, mostrando, só para variar, ótimas atuações. À começar pelo dono do carro que dá título ao longa. Kurt Russel está impecável na pele do assassino Stuntman Mike. O jeito malandro - e assustador - do personagem caiu como uma luva para o ator. Outras atrizes também dão conta do recado, como Rosário Dawson, a já citada Sydney Tamiia Poitier e a super-sexy Vanessa Ferlito. Tarantino deixa sua marca também em outros elementos do filme. Cortes secos de câmera, enquadramentos que fogem do convencional, um ar de filme antigo, da década de 1970 (embora se passe nos dias de hoje) e "erros" propositais durante todo o longa, como a perda da cor, deixando o filme em preto em branco, fazem do filme uma experiência única, que pode, inclusive, não agradar à todos (e fãs, sintam-se incluídos).

Tanta esquisitice pode ser explicada. "À Prova de Morte" foi concebido como parte do projeto "Grindhouse", que, buscando resgatar as sessões duplas concebidas na década de 30 como resposta à Depressão, trazia também o fraco "Planeta Terror", de Robert Rodriguez, e vários trailers falsos dirigidos por amigos da dupla. Inicialmente com uma duração de apenas 87 minutos, o longa chegou ao Brasil um pouco diferente: com 17 minutos à mais e, claro, sem fazer parte do projeto duplo original.

E aqui chegamos à parte ruim do filme. Ele se alonga demais em cenas desnecessárias e diálogos intermináveis que de importante não têm nada. O filme demora a engrenar, e quando engrena, tem uma sequência rápida de clímax, o que faz que todo o tom caia novamente, levando o filme ao mesmo desenrolar fraco do começo. Uma dessas cenas, por exemplo, ocorre na segunda metade do filme, quando Mike persegue um grupo de garotas: a sequência é tão longa que chega a cansar.

Mesmo com referências ao seus demais filmes - e os fãs vão perceber os detalhes de "Kill Bill" e "Pulp Fiction", por exemplo -, "À Prova de Morte" não supera os longas anteriores do diretor. Não é demais, inclusive, afirmar que se trata do seu filme mais fraco. O que não quer dizer que o filme seja de todo ruim: ele possui cenas e diálogos incríveis, de tirar o fôlego, e as cenas de ação fazem o filme valer a pena. Recomendado para aqueles que gostam de filmes que fogem - totalmente - do padrão!


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