Monday, March 15, 2010

"Guerra ao Terror": premiações no Oscar exageradas

O sol já havia se posto quando eu entrei pela porta de vidro, naquele início de noite do dia 06 de março, um sábado. "Moça, oi, licença. Queria saber se você tem ai o 'Guerra ao Terror'?", perguntei, na esperança de o filme ainda estivesse na locadora. Não haviam muitas pessoas no local. Um casal escolhia uma comédia romântica qualquer, enquanto um grupo de jovens pagava o aluguel de um filme de terror. Uma família chegou e foi direto ao setor de desenhos animados. "Não, desculpe", respondeu a balconista. "Ele foi locado não tem meia hora". Fiquei desanimado. As minhas chances de assistir a um dos principais concorrentes do Oscar 2010 tinham acabado de escapar por entre os dedos. "Tudo bem", respondi, sem jeito. Aluguei outro filme.

Um dia depois, mais ou menos às 23h, eu liguei o computador. A cerimônia do Oscar já havia começado. Christoph Waltz já havia ganho o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo Coronel Landa, personagem que interpretou em "Bastardos Inglórios". Prêmio merecido. Eu queria, queria mesmo, assistir a cerimônia de premiação da academia, mas nenhum canto da grande rede estava transmitindo-a, ao vivo. Contentei-me com "flashes" no Twitter e na UOL e no Terra. A Globo, por sua vez, só transmitiria a festa depois do rentável Big Brother Brasil, em noite de paredão.

Enfim, por volta das 23:30h, eu estava posicionado confortavelmente no sofá da minha sala, assistindo a emissora do plim-plim - e sendo obrigado à ouvir as asneiras do José Wilker. Prêmio vai, prêmio vem, vi "UP - Altas Aventuras" ganhar dois Oscars; vi também "Avatar" abocanhar outros três; "Preciosa", assim como a animação da Pixar, também levou dois... E, claro, vi "Guerra ao Terror" (the Hurt Locker), vencer em seis das nove categorias aos quais concorria. Incluindo Melhor Roteiro, Melhor Filme e Melhor Diretor.

Se minha vontade de ver o filme já era grande antes do longa de Kathryn Bigelow agarrar seis estatuetas, depois disso ela aumentou ainda mais. Fez-me lembrar, momentaneamente, de "Quem Quer Ser Um Milionário", vencedor de oito Oscar's em 2008 e um filme que eu me recusava a assistir, e ao qual eu dei o meu braço a torcer - é fantástico. Esse tal "Guerra ao Terror" deve ser muito bom também, pensei comigo. Afinal, ganhou seis Oscars.

O dia estava muito quente neste sábado, dia 13. "Alô, oi, boa tarde. Queria saber se o 'Guerra ao Terror' já foi locado", disse, ao telefone, com a balconista da mesma locadora de uma semana antes. "Não, não. Ele está aqui", respondeu ela, parecendo animada. "Legal. Pode reservá-lo para mim, já estou indo buscá-lo". E sai. Peguei as chaves do carro e sai. Cheguei à locadora, nem olhei as prateleiras, fui direto ao balcão. "Oi, vim pegar o 'Guerra ao Terror'...". 15 minutos depois, ei já estava em casa, ligando e convidando o pessoal à ver o filme. Algumas horas depois, todos estavam sentados em frente à TV, enquanto o DVD rodava e as imagens surgiam na tela...

E ai as coisas começaram a desandar de vez. Durante duas horas e dez minutos eu assisti à um dos filmes mais chatos e monótonos de toda a minha vida. Não se equipara ao inigualavelmente péssimo "Speed Racer", dos Irmãos Wachomsky - sim, os mesmos da Trilogia Matrix, mas é um filme daqueles que você se pergunta: como ganhou tantos prêmios? Sim, porque as únicas coisas que realmente valem a pena são as atuações - nenhuma, entretanto, merecia ser indicada ao Oscar, como aconteceu com Jeremy Renner.

Durante os 130 (longos) minutos do filme, o que se vê é uma série de eventos que se repetem. O soldado desarma uma bomba, depois outra, depois outra. Volta pro quatel general. Faz amizade com uma criança iraquiana. No dia seguinte, enfrenta alguns terroristas. Depois, vai desarmar outra bomba. Uma delas ele não consegue. Evitei alguns spoilers aqui, mas pronto, você não precisa mais assistir ao filme. Essa é toda a história, é todo o roteiro. Opa, roteiro? Que roteiro? Como a academia dá à um filme totalmente sem roteiro, o Oscar de Melhor Roteiro? O longa de Bigelow cansa, não tem ritmo nenhum e é monótono. Algumas tomadas são tão longas e sem atrativos que você simplesmente não precisa prestar atenção no que os atores estão dizendo para entender a situação, de tão vazia que ela é.

Isso faz com que qualquer fã de cinema, entenda ele do assunto ou não, pare para pensar no porquê de "Guerra ao Terror" ter levado os mais importantes prêmios do cinema em 2010. E a resposta é simples, e eu, de alguma maneira, já sabia dela antes mesmo de assistir ao filme: o egocentrismo americano. "Guerra ao Terror" mostra exatamente aquilo que os americanos querem ver da guerra do Iraque, ou seja, seus soldados como vítimas de tudo e toda a violência que acontece por lá. Eles estão lá para ajudar, mas não, os iraquianos são maus, por isso, devem ser detidos. Os americanos, por sua vez, são os herois. E é isso que você vai ver no longa.

Soldados americanos como os coitadinhos da situação. "Guerra ao Terror" foi uma grande decepção. Tantos outros filmes mereciam ganhar os prêmios que ele ganhou mais do que ele próprio. Qualquer um dos dez filmes que concorriam à Melhor Filme mereciam esse título, menos "Guerra ao Terror". A academia já não é mais digna de respeito.




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