Tuesday, January 25, 2011

"A Hospedeira" prende o leitor com mistura de romance e ficção-científica

A Terra foi invadida por seres silenciosos. As "Almas", raça de parasitas prateados que dominam planetas por todo o universo, são inseridas nos corpos humanos, que perdem completamente sua consciência e ficam totalmente à mercê da dominação alienígena. Hospedeiro. É nisso que um corpo humano se transforma ao ser dominado por uma alma. Um corpo sem vontade própria, que só obedece ao seu novo e pequenino mestre. A jovem Melanie Stryder é um dos poucos humanos que ainda caminham pela face da Terra, ao lado do irmão Jamie.

Mas a vida de Melanie muda bruscamente quando ela é capturada pelos Buscadores. Ela é levada até o Curandeiro Forbs Água Profunda e recebe uma nova mente: Peregrina, uma alma viajante e poderosa. Porém, o que Peregrina não esperava era a relutância de Melanie em deixar seu corpo. Uma luta interna é travada. Peregrina quer dominá-la, porém, Melanie não quer desaparecer. É nessa premissa que Stephenie Meyer, a mesma autora da série "Crepúsculo", nos apresenta "A Hospedeira" (The Host). Um livro mais adulto do que a saga dos vampiros, que mistura romance e ficção-científica num caldeirão efervescente.


Porém, pode tirar seu cavalinho da chuva se você acha que o livro vai mostrar um mundo pós-apocalíptico, com guerras e batalhas entre humanos e as almas, com seus hospedeiros. Nada disso. "A Hospedeira" é uma reflexão sobre a vida humana, sobre sentimentos. A relação que se estabelece entre Melanie e Peregrina é algo que vai fazer a alma pensar sobre o que é o certo: lutar por aquilo que é certo para a sua espécie ou enfrentar desafios maiores em busca do amor verdadeiro - que ela não sabe bem se é dela unicamente ou da mente humana, ambos no mesmo corpo.

Não é exagero afirmar que o livro pode ser enfrentado como uma mistura muito bem produzida entre "Crepúsculo" e o filme-arrasa-quarteirões "Avatar", de James Cameron. Do mesmo modo que Jake Sully, Peregrina se volta contra os da sua própria espécie para salvar um grupo de humanos. Ela acaba se apaixonando por Jared, o mesmo homem que Melanie ama. Então, estabelece-se um triângulo amoroso, mas com apenas três corpos - como a própria autora define o livro na quarta capa.

Porém, se o amor é tratado de maneira irritante e quase sem explicação em "Crepúsculo" e suas continuações, em "A Hospedeira" ele é mostrado de maneira muito mais adulta. Ele surge aos poucos, com a convivência de seres tão diferentes. Sim, por que Peregrina encontra, com a ajuda de Melanie, um reduto humano, onde mais de 30 pessoas resistem à invasão das almas. Ela é "aceita" no grupo, e todos - humanos e alma, têm de aprender a conviver com as diferenças.

A história desenrola-se, quase que inteiramente, dentro das cavernas na qual os humanos tentam sobreviver. Por isso, os sentimentos humanos como raiva, amor, desconfiança, ódio e amizade são mostrados em sua mais pura essência. O personagens, cada um deles, têm seu charme. Peregrina não consegue definir o que é certo ou errado e sua dúvida a acompanha por boa parte da leitura. Melanie é uma voz que acaba tornando-se uma guia à alma. Jeb é o tio curioso e protetor, que quer conhecer as histórias da alienígena. Jared, é a paixão e o desejo em pessoa. Jamie, o amigo - e irmão, de todas as horas. Ian vai ter a vida mudada e descobrir o significado - verdadeiro, do que é ser um "humano".

Porém, nada é um mar de rosas. A edição brasileira de "A Hospedeira", publicada pela Intrinseca, deixa um pouco à desejar. Não pela apresentação do livro ou pela qualidade do papel, ambas ótimas. O fato é que, ao ler o livro, não é necessário muita atenção para encontrar erros grosseiros de português ou letras trocadas. O que faltou foi uma revisão mais atenta por parte da editora. Quem sabe numa próxima edição. Não é um fato que atrapalhe a leitura, mas é algo que deixa o livro com cara de "preparado em cima da hora".


Para finalizar, "A Hospedeira" é um livro que vale a pena ser lido. As cenas de romance não são tediosas e chatas como as encontradas em "Crepúsculo", por exemplo. Embora seja uma história de amor, a publicação leva ao leitor muito mais do que isso. Leva um mix de emoções e sentimentos. Peregrina viajou por vários planetas para chegar à Terra e mostrar o que é, de verdade, ser um humano.

PS. Os direitos de "A Hospedeira" foram adquiridos por um trio de produtores, que anunciaram o nome de Andrew Niccol (Gattaca) como diretor. De acordo com o site da revista Variety, Nick Wechsler, Steve e Paula Mae Schwartz estavam à procura de uma história de ficção científica para produzir, e acabaram comprando os direitos de A Hospedeira com dinheiro próprio. Por isso o filme será independente. O filme deve estrear em Setembro deste ano.

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