Monday, January 17, 2011

"Além da Vida" mostra emoção e sensibilidade no trato à morte

Marie é uma famosa jornalista francesa, de férias na paradisíaca Tailândia com seu namorado. A quilômetros dali, em Londres (Inglaterra), os irmãos gêmeos Marcus e Jason lutam para se livrar de dois assistentes sociais que querem tirá-los do convívio da mãe, usuária de drogas. Indo mais além, em São Francisco (EUA), George é um trabalhador comum, que tenta esquecer seu passado e sua “maldição”, que nas palavras de seu irmão, é, na verdade, um “dom”. Três histórias, que num primeiro momento, não têm nenhuma relação. Mas o destino é algo que ninguém pode controlar, e ele vai fazer com que essas pessoas se cruzem.

A arma que o destino usa para essa união é a morte. Ou melhor, a questão que 10 entre 10 seres humanos gostariam de ter uma resposta: o que existe após a morte? Ainda continuamos a existir? Ou tudo se acaba? O diretor Clint Eastwood e o roteirista Peter Morgan não querem responder a essa pergunta em “Além da Vida” (“Hereafter”, no original). De forma sensível e bela, o filme aborda muito mais a maneira como o ser humano se dá com a perda de seus entes queridos e a busca de consolo para essa dor tão forte.

George (Matt Damon), já foi esse tipo de consolo. Como dito, ele é um operário de São Francisco. Mas nem sempre foi assim. Após um acidente na infância, ele começou a ter visões e a se comunicar com pessoas que já haviam morrido. Durante um bom tempo, ele foi o vidente mais famoso dos Estados Unidos, passando mensagens dos mortos a seus parentes que ficaram na Terra e ganhando tudo o que um homem quer: fama, dinheiro e um site na internet. Quase tudo, menos felicidade. Por isso, resolve jogar tudo isso para o alto, tentar esquecer sua maldição e viver uma vida normal.

Mas viver uma vida normal pode ser mais difícil do que parece. Marie (Cécile De France), que o diga. A jornalista vivia feliz até sua viagem à Tailândia. Vítima de um acidente sem precedentes (que eu não vou contar para não estragar a surpresa), ela vive uma experiência de quase morte, na qual enxerga algo que, até hoje, a ciência tenta explicar. Curiosa como todo jornalista, ela inicia uma busca aprofundada sobre o assunto.

Enquanto isso, Marcus (Frankie McLaren, George McLaren), tem de lidar com duas perdas: primeiro, com a morte do irmão gêmeo, Jason, e em seguida, com a separação da mãe biológica, quando ele é levado para morar com outra família. Ainda abalado, ele vai tentar, a qualquer custo, uma maneira de voltar a falar com o irmão.


Bryce Dallas Howard (Melanie) e Matt Damon (George)

Os gêmeos Frankie McLaren George McLaren (Marcus e Jason)
Cecile de France (Marie) e Thierry Neuvic

O drama “Além da Vida” é o segundo trabalho conjunto do diretor Clint Eastwood com o galã Matt Damon: o primeiro foi “Invictus”, em 2009. Aqui, a questão da vida após a morte é tratada de maneira muito mais sensível e carinhosa do que, por exemplo, nos filmes nacionais “Chico Xavier” ou “Nosso Lar”. Sem lições de moral ou algo do gênero, ele mostra como o ser humano não sabe lidar com a perda e a separação. Nesse sentido, o roteiro deixa de lado grandes explicações sobre o assunto e abrange as facetas humanas, suas experiências.

Matt Damon mostra porque está se tornando um dos queridinhos de Clint Eastwood. Mesmo que esse não seja um papel marcante na carreira cinematográfica do ator, ele mostra um George cabisbaixo, apático e quase depressivo, sem vida social e quase abandonado. E ele consegue jogar toda essa tristeza no colo do espectador, o que é justamente a intenção do diretor. A francesa Cécile De France, por outro lado, mostra uma atuação forte, que chama a atenção sempre, independente da pessoa que esteja contracenando com ela.

Efeitos visuais (esse mesmo que em pouquíssimas cenas do longa), e a trilha sonora complementam o cenário da produção. Numa das cenas iniciais do longa, uma sequência de tirar o fôlego, literalmente, prende a atenção dos espectadores, que, arrisco, vão ser pegos de surpresa. Uma cena dirigida magistralmente e com belos efeitos. Já a trilha é algo menos dramático e mais sensível. Destaque para as sequências que abordam a história de Marie: a trilha é tocante, suave e inspirada. Méritos a quem? Novamente, o veterano Clint Eastwood.

A palavra que pode definir “Além da Vida”, talvez, seja sensibilidade. Em cada canto do longa, podemos notar a atenção que o diretor teve de fazer um filme leve, que mexe muito mais com as emoções do espectador do que com suas doutrinas, tornando-se um filme democrático, que pode ser aproveitado por qualquer pessoa. Ao final da projeção, você terá a sensação de que acabou de ver um filme que não tem só um enredo encantador, boas atuações e trilha tocante, como também uma produção de uma beleza ímpar.



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