Sunday, June 27, 2010

Eu não tenho superpoderes, mas posso chutar a sua bunda!


Há anos diretores tentam transpor as histórias das mais famosas HQ's para as telas do cinema. Desde os anos 1970, com Superman - O Filme (1978), longa de Richard Donner e que trazia o saudoso Christopher Reeve na pele do Homem de Aço, o cinema encontrou nas famosas histórias em quadrinhos uma fonte quase inesgotável de personagens, roteiros, situações e possibilidades. Depois de Superman vieram Batman, Capitão América, Hulk, Homem-Aranha, Homem de Ferro, X-Men... Todos saídos das páginas das HQ's para as telas grandes. Mas, verdade seja dita, nenhum deles mostrou realmente a força que as histórias estáticas possuem, mesmo que um fime ou outro tenha se saído melhor.


"Kick Ass", que no Brasil ganhou o subtítulo "Quebrando Tudo" devido à sua tradução, digamos, pouco educada, chega para mudar esse paradigma. Ele é, de longe, um dos melhores filmes baseados em uma HQ já produzido até hoje (méritos ao diretor Matthew Vaughn), e é também uma das melhores estreias de 2010. Tudo no longa foi feito buscando um equilíbrio perfeito entre as cenas de ação e as de comédia, embora, num primeiro momento, ele possa parecer um filme repleto de esteriótipos - Dave Lizewski (Aaron Johnson) é o perfeito nerd que adora histórias em quadrinhos, sonha em ser como os personagens que lê e, de acordo com o próprio, tem o único poder de ser "invisível às garotas".


É a partir dessa revolta de Dave que o filme parte. Cansado de ser apenas mais um garoto no mundo, ele compra pela internet um uniforme verde e amarelo e sai pelas ruas em busca de se tornar um herói, como aqueles que ele tanto conhece das HQ's. "Grandes poderes trazem grandes responsabilidades", disse uma vez Tio Ben à um jovem Peter Parker. Dave conhecia muito bem essa frase, mas não a seguiu: na sua primeira empreitada heróica vai parar direto na UTI de um hospital. Mas Dave simplesmente não pode viver num mundo sem super heróis, e logo retorna à sua rotina - das 18h às 2h da madrugada e aos finais de semana -, de combate ao crime.


Por golpe do destino - e não de algum bandido mais forte do que ele -, Kick Ass é flagrado salvando um homem do espancamento. A partir daí, torna-se o queridinho da internet e, finalmente, alcança aquilo que tanto almeja: o reconhecimento da sociedade. Mas a fama traz consigo problemas ainda mais sérios, e se os super heróis das HQ's não existem de verdade, ele descobre que os vilões estão por toda parte: o jovem começa a ser perseguido pelo principal traficante da cidade, Frank D'Amico (Mark Strong), depois que, por engano, seu nome é envolvido na morte de seus subordinados.


Caçado dia e noite, Kick Ass conhece a elétrica Hit Girl (alter-ego de Mindy Macready, vivida pela ótima Chloe Moretz) e Big Daddy (codinome de Damon Macready, interpretado por Nicolas Cage). Hit Girl e Big Daddy combatem, silenciosos e sorrateiros, o crime e o tráfico de drogas na cidade. E mesmo não possuindo superpoderes, resolvem qualquer problema. Claro, eles não possuem o coração bondoso de Clark Kent, por exemplo, e matam qualquer um em seu caminho àsangue frio - e Kick Ass agradece por estarem no mesmo time, mesmo sendo essa uma opção criada contra a sua vontade.
Tudo isso é apenas a ponta do iceberg, e o filme se transforma de um longa muito mais sangrento e violento. Destaque para as cenas de luta de Hit Girl, uma garotinha de 12 anos treinada desde sempre para trucidar grandalhões com o triplo de sua altura. São cenas que remetem, querendo ou não, à filmes dirigidos por Quentim Tarantino, onde a violência, embora explícita, não é gratuíta, como "Pulp Fiction", "Kill Bill" e "Bastados Inglórios". Na verdade, há referências à todo tipo de material, digamos, mais geek: personagens como Batman, Homem-Aranha e até "Sin City - A Cidade do Pecado" permeiam os diálogos do longa.


Visualmente, o filme é um espetáculo. Desde efeitos visuais até a fotografia, tudo se encaixa perfeitamente. Novamente, destaco uma cena com participação intensa de Hit Girl, já mais na parte final do longa: o diretor se utiliza de um jogo de luzes e câmera lenta de uma maneira tão magistral que é impossível não assistir à sequência sem ficar com a boca aberta. Aproveitando a deixa, as atuações estão ótimas. Desde Aaron Johnson, o protagonista, até Mark Strong, a mente criminosa da história, todos seguram com determinação seus papéis. Aaron é um dos destaques, com seu heroi desengonçado. Mas impossível não falar da pequena Chloe Moretz - a Hit Girl -, e sua atuação fora do normal (de tão boa).


Unindo um roteiro surpreendente e muito bem conduzido, com um visual caprichadíssimo e atuações de primeiro nível, "Kick Ass - Quebrando Tudo" é indicado não só para quem é fã de histórias em quadrinhos (seja ela qual for), como também para quem procura um filme de ação bem feito e cheio de humor. Claro, os geeks de plantão vão se deliciar com todo o universo que o longa cria, mas o fime vai mais além e transforma esteriótipos: os nerds de hoje já não são mais como os de antigamente, e pelo menos em Kick Ass, deixaram de ser apenas leitores e tornaram-se os verdadeiros heróis da história.

5/5




No comments:

Post a Comment